Por que Hitler ODIAVA os judeus? E porque os judeus, especificamente?
Este artigo explica de onde vem o ódio dos nazistas aos judeus, como Hitler deu continuidade aos projetos de perseguição da Igreja Católica aos judeus e traça um breve itinerário que resume dos principais eventos históricos do antissemitismo que começam com a morte de Jesus e terminam com os campos de concentração de Auschwitz.
→ Os romanos sob Tito retaliam contra um levante judaico; destruíram Jerusalém e o Templo, escravizaram muitos líderes e dispersaram o povo judaico. Em 79, Tito sucedeu Vespasiano como imperador. Judeus e cristãos sofreram sob ele e o imperador Domitiano (70 d.C.).
→ Já nos Evangelhos é possível ver uma certa ênfase ou rispidez na forma como os escritores referem-se aos judeus. O próprio Papa Bento XVI comenta o relato do julgamento de Jesus, falando de uma ampliação indevida. No Tomo III de sua renomada Trilogia Jesus de Nazaré, o Papa fala sobre os judeus, comentando a expressão "Todo o povo", ao invés de "a massa" (ochlos). Ele culpa sutilmente a redação de São Mateus pelas "consequências fatais", qual seja, os conflitos de católicos com os judeus e a compreensão altamente equivocada da Teologia Católica, até o Concílio Vaticano II, a respeito da culpa dos judeus pelo assassinato de Jesus. Diz ele: "Uma amplificação do 'ochlos' de Marcos, fatal nas suas consequências, encontra-se em Mateus (27, 25), que diversamente fala de 'todo o povo', atribuindo-lhe o pedido da crucifixão de Jesus. Com isso, Mateus não exprime seguramente um fato histórico: como teria podido estar presente todo o povo naquele momento e pedir a morte de Jesus? A realidade histórica aparece de maneira seguramente correta em João e em Marcos. … Mesmo que 'todo o povo', segundo Mateus, tivesse dito “o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (27, 25), o cristão deve-se lembrar de que o sangue de Jesus fala uma linguagem diferente da do sangue de Abel (cf. Hb 12, 24): não pede vingança nem punição, mas reconciliação. Não foi derramado contra ninguém, mas é sangue derramado por muitos, por todos. … Não é maldição, mas redenção, salvação. Só com base na teologia da Última Ceia e da cruz presente na totalidade do Novo Testamento é que a palavra de Mateus sobre o sangue adquire o seu sentido correto."
→ O papa São Clemente responsabilizou os judeus pela persecução de Nero aos cristãos (88-97).
→ São Justino, o Mártir, condenou os judeus em Dialogue with Trypho (O Diálogo com Trifão) como "filhos de meretrizes" (160 d.C.)
→ Quando o imperador Severo criou leis impedindo que pagãos, sob pena de severa punição, abraçassem o Judaísmo, o bispo de Alexandria, Orígenes, escreveu:
“Podemos então asseverar com absoluta certeza que os judeus não retornarão à sua situação anterior, pois têm cometido os mais abomináveis crimes, formando a conspiração contra o Salvador da raça humana… Por isso, a cidade em que Jesus sofreu foi necessariamente destruída, a nação judaica expulsa do seu país e um outro povo (quer dizer a Igreja) foi chamado por Deus para ser a eleição abençoada" – Orígenes (bispo de Alexandria). (200 d.C.)
→ Tertuliano escreveu Contra os Judeus (De Adversus Iudeaos), o primeiro manifesto cristão sistematicamente antissemita. (200 d.C.)
→ São Cipriano escreveu que "O diabo é o pai dos judeus". (250 d.C.)
→ O Sínodo de Elvira baniu todos os casamentos e relações sexuais entre cristãos e judeus, também proibiu aos judeus de comerem junto com cristãos. (306 d.C.)
→ Sob Constantino, o casamento entre um varão judeu e uma cristã foi criminalizado e cominado com a morte. (337 d.C.)
→ São Hilário de Poitiers escreveu e falou de judeus como gente perversa para sempre maldita por Deus. Santo Efrém se refere nos seus hinos às sinagogas como prostíbulos. (367–376)
→ Santo Ambrósio, Bispo de Milão e Doutor da Igreja, inicia uma campanha para demolir os templos pagãos em sua diocese. Causa-lhe profunda indignação que, em certo momento, o Imperador Teodósio esteja cogitando reconstruir uma Sinagoga que os cristãos, sob a liderança de certo Bispo, destruíram. Por isso, o santo escreve uma Carta indignada (Epistola XL: Ab Theodosio Augusto) ao Imperador, repreendendo-o e instando-o a voltar atrás em sua decisão.
→ Soma-se ao coro de protestos contra a proteção aos judeus a voz de São João Crisóstomo, Doutor da Igreja:
“O povo judeu foi levado ao mal extremo por sua embriaguez e abundância. Rebelaram-se, eles não aceitaram o jugo de Cristo, nem quiseram puxar o arado de seus ensinamentos. … Embora tais animais sejam inadequados para o trabalho, são aptos para o abate. E foi isto o que aconteceu com os judeus: enquanto se tornavam inaptos para o trabalho, tornaram-se aptos para o abate. É por isso que Cristo disse: ‘Mas quanto a estes meus inimigos, que não quiseram que eu fosse rei sobre eles, traga-os aqui e mate-os.’ (cit. Evangelho de N.S. Segundo S. Lucas Evangelista XIX,27). … Se, então, os judeus não conhecem o Pai, se crucificaram o Filho, se rejeitaram o auxílio do Espírito, quem ousaria negar que claramente a sinagoga é uma morada de demônios? … Vedes que os demônios habitam em suas almas e que esses demônios são mais perigosos do que os antigos? E isso é muito razoável. Antigamente, os judeus agiam impiamente para com os profetas; agora, eles ultrajam o Mestre dos profetas. Diga-me isso: não estremeceis ao entrar no mesmo lugar com homens possuídos, que têm tantos espíritos imundos, que foram criados em meio à matança e ao derramamento de sangue? Você deveria cumprimentá-los e trocar uma simples palavra? Não deveríeis afastar-se deles, já que são a desgraça e a infecção comum em todo o mundo? Eles não chegaram a todas as formas de maldade? Não se dedicaram todos os profetas a fazer numerosos e longos discursos de acusação contra eles? … Diga-me isso. Se um homem matasse seu filho, suportarias olhar para ele ou aceitaria sua saudação? Não o evitarias como um demônio perverso, como o próprio Diabo? Eles mataram o Filho do Seu Senhor. Tens a ousadia de estar com eles sob o mesmo teto? Depois que Ele foi morto, Ele vos concedeu tanta honra que vos tornaste seu irmão e co-herdeiro. Mas, vós muito o desonrais, prestando honras àqueles que o mataram na cruz; observando com eles a comunhão das festas; frequentando os seus lugares profanos; entrando por suas portas impuras e participando das mesas dos demônios. … Vós matastes Cristo, levantastes vossas violentas mãos contra o Mestre, derramastes Seu Precioso sangue. É por isso que não tendes chance de justificação, desculpa ou defesa. … O templo já era um covil de ladrões quando a comunidade e o modo de vida judaico ainda prevaleciam. Agora, vós dareis um nome mais digno do que ela merece se os chamardes de bordel, reduto do pecado, alojamento de demônios, fortaleza do Diabo, destruição da alma, precipício e poço de toda perdição, ou qualquer outro nome que puderdes dar.” – São João Crisóstomo, Doutor da Igreja - Discourse Against Judaizing Christians [Adversus Judæos], c. 386-387 d.C.:
(DRESSLER, Fr. Hermigild, et. al. The Fathers of The Church - A New Translation Vol. LXVIII - Saint John Chrysostom - Discourses Against Judaizing Christians - Discourses I,II,5-6; I,III,3. I,VI,7; I,VII,5; VI,II,10; VI,VII,6. p. 8-9;11;24-25;28-29;154;169 (v¹: 74-75;77;90-91;94-95;220;235). Washington: The Catholic University of America Press, 1999)
→ São Gregório de Nissa caracterizou judeus como assassinos de profetas, companheiros do diabo, raça de víboras, sinédrio de demônios, inimigos de tudo que é belo, porcos e cabras na sua lasciva grosseria.
→ O Concílio Eclesial de Laodiceia proibiu que cristãos respeitassem o Sábado Judaico. (379–395)
→ O imperador bizantino Arcádio resistiu ao fanatismo cristão, não permitiu a destruição de sinagogas. Santo Epifânio caraterizou os judeus como desonestos e indolentes. - (395–408)
Outras obras antissemitas deste
período incluem Octavius por Marcus Minucius Felix, De Catholicae Ecclesiae
Unitate por São Cipriano de Cartago e Instructiones Adversus Gentium Deos por
Lactâncio. Eusébio de Cesaréia chamou os judeus de uma seita perversa, perigosa
e criminosa, Santo Ambrósio reciclou um antigo ataque anti-cristão e acusou os
judeus de desprezar o direito romano, São Jerónimo de Strídon afirmava que os
judeus eram possuídos por um espírito impuro, São Cirilo de Jerusalém afirmou
que os patriarcas judeus, ou Nasi, eram uma raça inferior.
→ Teodósio II proibiu que os judeus construíssem novas sinagogas. (408–450)
→ São Cirilo, o bispo de Alexandria, incitou um populacho contra os judeus e os tinha expulso. O bispo Severo queimou uma sinagoga e incitou gente a agredir e apoquentar judeus nas ruas. Muitos judeus converteram-se ao Cristianismo por medo.
"O verdadeiro judeu é Judas Iscariotes, que vende o Senhor por prata. O judeu nunca pode entender as Escrituras e para sempre vai carregar a culpa pela morte de Jesus." - Santo Agostinho, bispo de Hipona (415)
→ O ilustre bispo Santo Agostinho de Hipona escreveu: "A verdadeira imagem dos Hebreus é a de Judas Iscariotes, que vendeu o Senhor por prata. Os Judeus nunca poderão entender as Escrituras e para sempre carregarão a culpa pela morte de Jesus." (415 d.C.)
→ O bispo Severo de Maiorca forçou judeus a se converter. Violenta luta de rua irrompeu com um populacho incitado pelo bispo. A sinagoga foi queimada. Finalmente, os líderes da comunidade judaica se renderam e 540 judeus foram convertidos.
"Se a chamares um prostíbulo, um covil e vício, um lugar de depravar a alma, um abismo de qualquer desastre concebível ou qualquer coisa que quiser, estarás ainda dizendo menos do que merece." - São Jerônimo, (que estudara com cientistas judaicos na Palestina e traduziu a Bíblia ao latim (a Vulgata), escrevendo sobre a sinagoga) (418)
→ Um populacho cristão pôs fogo nas sinagogas de Antioquia e jogou os corpos de chacinados judeus no fogo. (489)
→ Um populacho cristão agrediu e destruiu a sinagoga de Dafne perto de Antioquia. A congregação foi chacinada. (506)
→ A população cristã de Ravena agrediu judeus e queimou a sinagoga. (519)
→ Sob o Imperador São Justiniano, O Grande, a Lei Romana foi sistematizada e codificada como Corpus Iuris Civilis, também conhecido como o Código Justiniano. A Lei e Doutrina Eclesiástica chegaram a ser políticas de Estado. Estabeleceu-se neste compêndio jurídico o princípio Servitus Judaeorum (Servidão dos Judeus). Os judeus foram considerados deicidas e, em decorrência, deveriam ocupar na sociedade status de inferioridade. As desvantagens e prejuízos sociais postos seriam posteriormente confirmados e ampliados por um sem número de Concílios, Sínodos, Documentos Papais e Livros famosos de Teologia. Os judeus não poderiam testemunhar contra cristãos, não poderiam ocupar cargos públicos, não poderiam gozar de honras, foi vedado o uso do hebraico na Adoração, Shema Yisrael ("Ouve, ó Israel, YHWH nosso Deus, YHWH é um!”) – muitas vezes considerada a oração mais importante no judaísmo - foi banida por ser considerada uma negação da Trindade, não podiam celebrar Peçah antes da Páscoa, só tinham acesso a uma versão revisada e censurada da Escritura nas sinagogas. Um judeu que se convertesse ao cristianismo herdaria toda a propriedade dos ascendentes, excluindo da partilha os irmãos e irmãs ainda judeus, o Imperador foi legitimado como árbitro de disputas internas entre judeus. Leis semelhantes foram aplicados aos samaritanos. (528)
→ O Sínodo de Clermont decretou a exclusão dos judeus de todas as funções e cargos públicos. (535)
→ Com Sínodo de Orleans Judeus foram (novamente) proibidos terem empregados cristãos, o que os efetivamente os excluía da agricultura. O Terceiro e o Quarto Concílios de Orleans proibiram aos judeus aparecerem em público durante os períodos da Paixão e Páscoa. (538)
→ O bispo Avito de Averna tentou converter judeus sem resultado. Então incitou um populacho que destruiu as sinagogas. Os judeus tiveram de escolher entre batismo e expulsão. Um judeu se converteu. Durante a procissão depois do seu batismo, um judeu o borrifou com óleo rançoso. Isso enfureceu o populacho e muitos judeus foram mortos. 500 judeus permitiram ser batizados. O restante fugiu para Marselha. (554)
→ O bispo de Uzes na França forçou os judeus na sua diocese a decidirem entre batismo ou expulsão. (561)
→ João de Éfeso transformou sete sinagogas em igrejas. Sob o rei merovíngio Chilperico, todos os judeus no seu reino tinham de escolher entre a conversão ou ter os seus olhos arrancados. (582)
→ O rei espanhol Sisebuto restringiu severamente os direitos dos judeus no seu reino. Estes não tinham permissão de possuir ou cultivar terra ou de operar em determinados negócios. Mais tarde editou um ultimato a todos os judeus: converter-se ou serem exilados. (589)
→ O Papa São Gregório Magno, Doutor da Igreja, na Epist. VI Judæi de civitate [Os judeus da cidade] a Januarium, Bispo de Cagliari, 600 d.C., condena batismos forçados e a tomada das Sinagogas até então existentes, mas reitera a proibição de construir novas. O Papa Gregório IX reforça o dispositivo nas suas Decretales. (600)
→ O imperador Heraclio ordenou e forçou a conversão de todos os judeus no seu império e renovou os códigos de Adriano e Constantino que barravam os judeus de Jerusalém. Dagoberto, o rei merovíngio, seguiu o exemplo e Heraclio, forçando os judeus no seu reino sob ameaça de morte a se converterem à Cristandade. (628–629)
→ O Terceiro Concílio de Toledo presidido por Santo Isidoro, bispo de Hispalis (Sevilha), decidiu contra conversões compulsórias. Contudo, uma vez convertidos, foram proibidos de voltar ao judaísmo, tendo de separar-se das comunidades judaicas. Crianças judaicas batizadas foram tiradas dos seus parentes e criadas em mosteiros. Nem a judeus, nem a convertidos à Cristandade era permitido ocupar cargos públicos. Como a proibição de batismo forçado não-raramente era desrespeitada e que os Estados em determinados rompantes históricos batizavam em massa judeus à força (vide Espanha e Portugal) e que alguns até se convertiam "voluntariamente" para fugir da repressão, os judeus (então chamados de cristãos-novos) eram submetidos a grandes tormentos, sendo acusados de heresia ou apostasia e estando circunscritos sob a jurisdição da Santa Inquisição. (633)
→ O Cân. LVII do IV Concílio de Toledo [Concilium Toletanum Quartum], Presidido por S. Isidoro, Bispo de Sevilha e Doutor da Igreja, 633 d.C., condenou batismos forçados, mas decretou que, aqueles já convertidos à força, deveriam ser obrigados a permanecer católicos.
O Quarto Concílio de Toledo, presidido por Santo Isidoro, decretou que crianças judaicas batizadas como cristãs não sejam devolvidas aos seus pais de sangue. Convertidos tinham de ser rigorosamente supervisionados pelas autoridades eclesiais. Judeus tinham de jurar que teriam abandonado a Lei e prática judaicas. Punições estendiam-se de açoites, perda de membros, confisco de propriedade a ser queimado na estaca. Os bispos de Sevilha e de Toledo, Isidoro e Juliano, escreveram documentos polêmicos contra os judeus. (638)
→ Não-católicos foram expulsos da Espanha visigoda. (638–642)
→ O Oitavo Concílio de Toledo deu anuência à opinião do rei Recesvindo da Espanha que apareceu perante o Concílio chamando o Judaísmo de uma poluição do seu país e pediu a remoção de todos os infiéis. Os judeus tiveram de assinar um juramento (placitum) que tornou a prática do Judaísmo quase impossível. Violações foram punidas por cremação ou apedrejamento. (653)
→ O Nono Concílio de Toledo prescreveu que judeus convertidos passassem todas as festas judaicas e cristãs na presença dum bispo. (655)
→ O rei Erviges da Espanha proibiu que judeus praticantes entrassem em portos do mar. Mandou que todos os judeus fossem batizados. Os convertidos tinham de ouvir sermões cristãos e não tinham permissão observar as leis dietéticas. O XII Concílio de Toledo confirmou as ordens do rei que decretaram queimar o Talmude e outras literaturas judaicas. (681)
→ Em 692, o Sínodo de Trulanic proibiu os cristãos de se tratarem com médicos judeus e os judeus de se tratarem com médicos cristãos. Também proibiu aos cristãos que assistissem festas judaicas, e que tivessem relações de amizade com judeus.
→ Os Décimo Sexto e Décimo Sétimo Concílios de Toledo, presidido pelo rei Egiza e o sucessor do bispo Juliano, Félix, restringiram outra vez severamente os direitos dos judeus, acusando-os de minarem a Igreja, de massacre de católicos, de conspiração com mouros e de destruição do país. Judeus foram declarados escravos, sua propriedade foi confiscada e suas crianças forçosamente educadas em famílias católicas ou mosteiros. (693–694)
→ Os judeus sempre foram bem educados, pois sua religião sempre foi disseminada pelo estudo, e enquanto o clero católico gozava de privilégios e os leigos eram majoritariamente analfabetos, os judeus apresentavam as maiores taxas de alfabetização. Suas famílias, até por suas crenças, mostraram-se historicamente mais estáveis. A solidariedade entre eles sempre foi maior do que a média. Tudo isso ajudava a produzir uma qualidade de vida maior entre os judeus. Como foram proibidos de possuir imóveis, praticavam sistematicamente a usura e o ágio - empréstimo de dinheiro a juros. O que era enfurecia a Fé cristã (contrária ao juro) e fazia com que progredissem economicamente.
→ O arcebispo de Lion, Santo Agobard, escreveu nas suas epístolas que judeus nasceram escravos, e que estariam roubando crianças cristãs para vendê-las aos árabes. (829)
→ Os bispos de Lion, Rheims, Sens e Bourges convocaram o Concílio de Meaux para renovar restrições antijudaicas (845). O imperador Charles de Bald recusou implantá-las no Concílio de Paris (846).
→ Luís II, rei da Itália, expeliu os judeus de efeito em 1º de outubro de 855. Em sermões durante o período da Páscoa, a população de Beziers foi encorajada a vingar a crucificação de Jesus. A nobreza de Toulouse tinha por alguns anos o privilégio de publicamente esbofetear as orelhas do presidente da comunidade judaica nas Sextas Feiras Santas. Mais tarde, isso foi mudado para um pagamento anual que os judeus tinham de fazer. (855)
→ A partir do século XI têm-se início a acusação conhecida como “Libelo de Sangue”, ou seja, a crendice cristã que acusava os judeus de praticarem "rituais de assassinato (assassínios rituais ou sacrifícios rituais)" matando crianças cristãs (frequentemente antes da Páscoa) para fins cerimoniais. Por toda a idade média, as acusações registradas de rituais de assassinato chegam à casa dos 150 e vitimaram milhares de judeus em toda a Europa.
→ Como resultado da destruição do Santo Sepulcro em Jerusalém pelos moslins, comunidades judaicas foram atacadas por populares em Orleans, Ruão, e Roma. Judeus que recusaram a conversão foram expulsos de Mogúncia sob o imperador Henrique II na primeira perseguição séria na Alemanha. (1009–1012)
→ Na sexta-feira santa e no sábado seguinte de 1021, ocorreu um grande terremoto em Roma. O evento natural foi considerado à época - obviamente - uma punição enviada por Deus. E, em resposta a isso, o Papa Bento VIII torturou e queimou muitos judeus na fogueira, culpando-os por profanarem a hóstia, enfiando nela um prego numa tentativa de crucificar Jesus uma segunda vez. Também foram queimados todos os exemplares disponíveis do Talmude. (1021)
→ Em 1050, o Sínodo de Narbonne reitera a proibição dos cristãos de conviverem com famílias judias.
→ O papa Gregório VII decretou que judeus não poderiam ocupar cargos públicos ou ser superiores de cristãos. Em 1081, Afonso VI de Toledo, Espanha, foi repreendido pelo papa por apontar judeus em cargos de estado. Judeus tinham de pagar taxas extras para sustentar a Igreja. (1078)
→ Em 1092, o Sínodo de Szabolcs proíbe os judeus de trabalhar aos domingos. (1092)
→ O papa Urbano II convocou em 1096 uma cruzada contra os turcos. O duque de Lorena tentou juntar um exército para a Cruzada. Para coletar dinheiro, espalhou o rumor de que iria matar os judeus para vingar a morte de Cristo. Os judeus da Renânia lhe pagaram 500 peças de prata como resgate. O imperador Henrique IV mandou que os cavaleiros do seu Império não atacassem os judeus.
→ Cruzados massacraram judeus de Ruão e de outras cidades de Lorena. Comunidades judaicas na Alemanha supriram o exército de Pedro o Eremita, tentando assim evitar os ataques dos Cruzados. Estima-se que 10.000 judeus foram massacrados na França e na Alemanha. Emich de Leisinger, com seus milhares de Cruzados, ignorou a ordem do imperador, começando uma campanha de terror contra os judeus. Em Speyer matou doze. Em Mongúncia, outros 1000 foram mortos. Os judeus de Colônia tinham fugido, só dois foram mortos e a sinagoga foi queimada. Quando os bandos moviam-se descendo o vale do Reno, uma estimativa de que 12.000 judeus foram assassinados nas cidades ao longo do rio Reno. Bandos e tropas moveram-se pelo vale a Mosela, matando judeus no seu caminho. À comunidade judaica de Trier foi dada proteção pelo bispo local, sob condição de conversão. Muitos foram batizados, outros optaram pelo suicídio à alternativa de mudar de fé. Os Cruzados e Guilherme, o Carpinteiro, executaram outros. O cavaleiro Volkmar chegou à Hungria com 10.000 homens para juntar-se ao exército de Pedro, o Eremita. A comunidade judaica em Praga foi atacada. Quando tentaram atacar os judeus em Nitra, os húngaros vieram em sua defesa e derrotaram os cruzados. Gottschalk, um cavaleiro do exército de Peter, o Eremita, chefiou a seção sob seu comando, massacrando a comunidade judaica de Ratisbona.
Enquanto grandes hordas mal organizadas de nobres, cavaleiros, monges, e aldeões entoando “Deus assim o quer” partiam para libertarem a Terra Santa dos muçulmanos – subitamente viraram-se contra os judeus no trajeto... Um cronista, Guibert de Nogent (1053 –1124), relatou que os Cruzados de Rouen diziam: “Desejamos combater os inimigos de Deus no Oriente; mas temos aqui, sob nossos olhos, os judeus, uma raça mais inimiga de Deus do que todas as outras. Estamos executando tudo às avessas”.
De um terço a um quarto de toda a população judaica da Alemanha e do norte da França foi dizimada durante a Primeira Cruzada.
Em Jerusalém, os judeus que conviviam com muçulmanos fugiram dos Cruzados, trancando-se na principal sinagoga, onde todos os 969 morreram queimados. Do lado de fora, os Cruzados - que acreditavam estar vingando a morte de Cristo – cantavam levantando os seus crucifixos: “Cristo, adoramos-te!”. Antes disso, mais cedo no mesmo dia, enquanto os Cruzados passavam sobre os corpos mutilados daqueles que haviam sido chacinados, Raymond de Aguilers, citou o Salmo 118: “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele”. Os Cruzados tencionavam fazer de Jerusalém, uma cidade cristã. (1095–1096)
→ Os Cruzadores sob Godofredo de Bouillon conquistaram Jerusalém. Massacraram os muslin e arrastaram judeus, rabanitas e caraítas, para dentro da sinagoga, onde foram queimados vivos. (1099)
→ É registrado o primeiro pogrom de judeus em Kiew (Rússia). Um pogrom é um ataque violento massivo contra um grupo étnico ou religioso, suas casas, negócios, templos - geralmente sob a anuência das autoridades políticas e religiosas locais. (1100)
→ O monge cisterciense Rudolf excitou populachos contra os judeus em França e Alemanha. Massacres correram em Colônia, Worms, Speyer e Estrasburgo.
Os arcebispos de Mogúncia e Colônia solicitaram a Bernardo de Clairvaux que repreendesse e silenciasse Rudolf e que ordenasse ao povo que não molestassem os judeus. Como isso não tive qualquer efeito, Bernardo foi à Alemanha e mandou o monge Rudolf de volta ao mosteiro. Embora Bernardo tenha se oposto a matar os judeus, também os demonizou-os e convocou a todos para uma Segunda Cruzada. (1140)
→ Ocorre o relato da primeira acusação de sacrifício ritual em Norwich, Inglaterra. Líderes judaicos foram mortos. Também o abade Pedro, o Venerável de Cluny tentou incitar Luís VII da França contra os judeus. Insistiu para que o rei custeasse as Cruzadas. (1140)
→ A pregação do monge Rudolf continuou se dispersando e causando efeitos de populachos, massacres e batismos forçados por todo o vale do Reno. Simão, o Pio de Trier e uma mulher judia de Speyer foram mortos quando se recusaram a ser batizados, apesar de tentativas de autoridades civis e eclesiais para proteger os judeus. (1146)
→ São Bernardo de Claraval, Doutor Mellifluus - Epistola CCCLXIII Ad Orientalis Francie Clerum et Populum, nº 6, 1146 d.C.:
“… Quanto ao resto, irmãos, advirto-vos, não eu, mas o Apóstolo de Deus junto a mim, que não se deve crer em todo espírito. Ouvimos e nos regozijamos para que vos arda o zelo de Deus, mas importa que o temperamento de toda ciência não falte. Os judeus não devem ser perseguidos, não devem ser massacrados e nem sequer devem ser expulsos. Examine os escritos divinos a respeito deles. Lemos no Salmo um novo tipo de profecia a respeito dos judeus: Deus me mostrou, diz a Igreja, sobre o assunto dos meus inimigos, para não matá-los, caso algum dia se esqueçam do meu povo. Vivos, porém, são para nós lembranças eminentes do sofrimento do Senhor. Por isso estão espalhados por todas as terras para que possam ser testemunhas da Nossa Redenção enquanto pagam as justas penas por tão grande crime. Daí a Igreja falando no mesmo salmo acrescenta: 'Espalha-os em teu poder e derruba-os, meu protetor, Senhor (cit. Sl 59,11).' Assim aconteceu: foram dispersos, foram depositados; eles suportaram um duro cativeiro sob príncipes cristãos. Porém, eles converter-se-ão à noite e a tempo chegará o seu respeito. Finalmente, quando a multidão dos gentios houver entrado, 'então todo o Israel será salvo', diz o Apóstolo (cit. Rm 11,26). Entretanto, é claro, quem morre, permanece na morte. …” - São Bernardo de Claraval, Doutor Mellifluus - Epistola CCCLXIII Ad Orientalis Francie Clerum et Populum, nº 6, 1146 d.C.:
(HORSTIUS, Jacobus Merlus, MABILLON, D. Joannis-Johannis-Jean. Sancti Bernardi Abbatis Clarae-Vallensis Opera Omnia Vol. I,1. p. 660-664 (v¹: 330-332; v²: 342-344). Paris, Gaume Fratres, Bibliopolas, 1839)
→ São Bernardo de Claraval, Doutor Mellifluus - Epistola CCCLXV Ad Henricum Moguntinum Archiepiscopum, 1146 d.C.:
“… A Igreja não triunfa mais plenamente sobre os judeus, convencendo-os ou convertendo-os diariamente, do que se, de uma vez por todas, ela os destruísse ao fio da espada? Certamente não é em vão que a Igreja estabeleceu a oração universal que é oferecida pelos pérfidos judeus, desde o nascer até o pôr-do-sol, para que o Senhor Deus possa remover o véu de seus corações; para que eles possam ser resgatados de suas trevas para a luz da Verdade. Pois, a menos que esperasse que aqueles que não acreditam, acreditassem, seria obviamente fútil e vazio orar por eles. Mas ela considera com o olhar da piedade que o Senhor respeita a graça daquele que retribui o bem com o mal e o amor com o ódio. …” - São Bernardo de Claraval, Doutor Mellifluus - Epistola CCCLXV Ad Henricum Moguntinum Archiepiscopum, 1146 d.C.:
(HORSTIUS, Jacobus Merlus, MABILLON, D. Joannis-Johannis-Jean. Sancti Bernardi Abbatis Clarae-Vallensis Opera Omnia Vol. I,1. p. 666-667 (v¹: 333-334; v²: 345-346). Paris, Gaume Fratres, Bibliopolas, 1839)
→ Cruzados na Alemanha assassinaram 20 judeus em Würzburg. Em Belitz, todos os judeus foram cremados. 150 judeus foram assassinados na Boêmia. Ocorrem ataques à comunidades judaicas também na França. (1147)
→ O Papa Alexandre III estabeleceu no Dec. De terris [Das terras] ao Bispo de Marselha que os judeus deveriam ser tributados, pagando dízimos à Igreja. O Papa Gregório IX reforça a determinação nas suas Decretales. (1170/ 1234)
→ Registro da brutal acusação de sacrifício ritual em Blois, França. Toda a comunidade judaica local foi torturada e queimada. (1171)
→ O Papa Alexandre III escreve o Dec. Conſuluit nos [Nos consultou], c. 1176-1179 d.C., dizendo que apelações em favor dos judeus, no sentido de permitir que eles tenham escravos deve ser rejeitada sumariamente, ainda que seja o Rei que pleiteie em favor deles. Além disso, proibindo que os judeus possam construir sinagogas em locais novos. Permite, porém, que eles reparem as antigas, desde que eles não as elevem, as tornem mais amplas ou mais luxuosas do que eram antes. (1179-1181)
→ Em 1179, o III Concílio Ecumênico de Latrão condena o convívio e a interação de judeus e cristãos. O seu Cân. XXVI. Iudæi sive Sarraceni… [Judeus ou sarracenos…] também estabelece que os judeus estão proibidos de depor contra cristãos em tribunais. (1179)
→ Registros de sacrifícios rituais em Bury St. Edmund, Inglaterra (1183), Winchester (1181) e Bristol (1192).
→ Quando Richard I foi coroado, um pogrom explodiu contra as comunidades judaicas em Londres e Iorque. Richard puniu os desordeiros. Também permitiu que Judeus batizados à força pudessem retornar à sua fé. (1188)
→ O rei Richard comprometeu-se a proteger os judeus em seu país. Contudo, na esteira de uma nova Cruzada, os cristãos cruzados na Inglaterra atacaram comunidades judaicas. Os bairros do Port of Lynn em Norfolk foram queimados e os judeus massacrados. Judeus de Norwich refugiaram-se no castelo real. 1.500 judeus foram assassinados em Iorque. A comunidade em Stanfort foi pilhada e os que não conseguiram chegar ao castelo foram mortos. (1190)
→ Na França, a cidade de Bray foi cercada pelo rei Filipe. Os judeus tiveram de escolher entre batismo e morte. Toda a comunidade optou pelo suicídio. Quem não se matou foi queimado vivo pelo rei, com exceção das crianças menores de 13 anos. (1191)
→ Os judeus de Londres tiveram de pagar 3 vezes a importância que cidadãos cristãos pagaram pelo resgate de Richard I. (1194)
→ Um presbítero, Fulk of Neuilly, que quis reformar a Igreja pregou através da França inteira contra usura e exigiu que usurários devolvessem os seus ganhos aos pobres. Populares usavam seus sermões para atacar judeus e nobres usavam esses discursos religiosos para expulsar os judeus dos seus reinos e confiscar as suas propriedades. (1195)
→ O Papa Inocêncio III publica a Bula Maiores ecclesiæ [Maiores da Igreja], set.-out. 1201 para condenar os batismos forçados e distinguir interpretar o IV Concílio de Toledo, no sentido de distinguir aqueles judeus que totalmente resistiram ao batismo (os quais não foram batizados validamente, nem devem ser forçados ao batismo) e aqueles que apenas foram coagidos, os quais devem ser forçados a observar o cristianismo, muito embora seu batismo não produza efeitos salvíficos.
O Papa Gregório IX reiterou esse decreto em suas Decretales, Liv. III, Tit. XLII. Do Batismo e seus Efeitos [De Baptismo et ejus Effectu], Cap. III, 1234 d.C.
Na Bula Etsi non displiceat, de 17/02/1205, dirigida ao Rei Filipe II da França, em que o critica com severidade afirmando que desagrada a Deus que os príncipes "prefiram os filhos dos crucificadores, contra os quais o sangue clama aos ouvidos do Pai, que aos herdeiros do Cristo crucificado e que prefiram a servidão judaica à liberdade daqueles a quem o Filho libertou, como se o filho da escrava pudesse ser co-herdeiro com o filho da esposa livre." Nesta Bula, condena a usura, o enriquecimento dos judeus, o ambiente de maior liberdade, o fato de que judeus estão tendo empregados cristãos, que o testemunho de judeus está sendo validado em disputas judiciais, o fato de que construíram uma sinagoga maior do que uma Igreja, que andam livremente pelas ruas na Sexta Feira Santa, acusa os judeus de matarem cristãos “em segredo”, concluindo: “advertimos a serenidade real e exortamos em nome de Deus e impomos em remissão de seus pecados, que você impeça que os judeus façam essas coisas e coisas semelhantes, que procure abolir tais abusos no reino da França, para que alguém o veja imbuído de zelo por Deus de acordo com a sabedoria. Além disso, como as leis seculares devem ser mais severas contra aqueles que blasfemam contra o Nome do Senhor, tenha cuidado com esses blasfemadores, para que o castigo deles seja uma lição para todos, para que a facilidade do perdão não incentive o crime. Esforce-se para eliminar os hereges, para que a grandeza real não permita que o lobo, disfarçado sob a pele de ovelha, vague livremente em seu território para a perdição do rebanho, mas que mostre o mesmo fervor em perseguir os hereges que atacam a fé cristã.”
Na Bula Etsi Iudeos, 15/07/1205, o mesmo Papa:
"A piedade cristã acolhe os judeus e os faz viver entre os cristãos, aqueles que por sua própria culpa se submeteram à servidão perpétua quando crucificaram o Senhor (cuja vinda em carne os seus profetas anunciaram para a redenção de Israel). E embora os sarracenos, que perseguem a fé cristã e não acreditam naquele que foi crucificado por eles, não podem suportá-los, mas os expulsam de seus territórios e nos censuram fortemente por tolerá-los, enquanto acreditamos que eles condenaram nosso redentor à madeira do Cruz. Os judeus não devem, portanto, ser ingratos, nem retribuir a graça com insulto e a familiaridade com ódio. Como se por piedade fossem admitidos em nossa intimidade, eles não devem nos ameaçar com uma retribuição que muitas vezes infligem a seus anfitriões, segundo o provérbio popular, 'como um rato no bolso, como uma serpente no colo e como fogo no peito [mus in pera, serpens in gremio et ignis in sinu].'"
E, ainda, na Bula Ut esset Cain, 17/01/1208:
"Caim era um andarilho e fugitivo na terra, mas não foi morto por ninguém, porque o Senhor havia colocado um sinal em sua cabeça, fazendo-o tremer. Da mesma forma, os judeus, contra quem clama a voz do sangue de Jesus Cristo, não devem ser mortos, para que o povo cristão não se esqueça da Lei Divina. Eles devem ser espalhados pela terra como errantes, de modo que seus rostos estejam cheios de ignomínia e eles busquem o Nome do Senhor Jesus Cristo. Pois os blasfemadores do nome cristão não devem conspirar com os príncipes cristãos na opressão dos servos do Senhor, mas devem se humilhar na escravidão que eles mereçem, quando levantaram suas mãos sacrílegas contra Aquele que veio para lhes dar a verdade e a liberdade, clamando juntos que seu sangue caia sobre eles e sobre seus filhos. … Você, portanto, como ouvimos, como homem católico e servo de Jesus Cristo, deve, em reverência a Ele, opor-se às superstições judaicas, para que os inimigos da cruz não sejam exaltados contra os servos do Crucificado. Porém você os favorece de maneira principesca e eles têm em você o principal defensor de seus ditos excessos. Você não ficaria particularmente furioso se um de seus súditos ajudasse seu inimigo? Quanto mais você deve provocar a ira divina, já que não tem medo de dar seu favor àqueles que ousaram pregar o Filho de Deus na cruz e ainda não pararam de proferir blasfêmias? Nós, que queremos afastar o escândalo que se levantou no meio do povo e abolir o excesso de tal presunção de que sois acusados de cometer contra Cristo e contra a sua Igreja, apelamos à vossa nobreza, ordenamos e exortamos, em Nome do Senhor, por Carta Apostólica que você corrija as coisas acima por conta própria, abstenha-se de fazer tais coisas, que mostre que tem zelo pela fé ortodoxa, de modo que não precisemos colocar nossas próprias mãos para corrigir essas coisas. Nós que, segundo o Apóstolo, devemos prontamente cuidar para punir toda desobediência, pois fomos comissionados por Deus para arrancar o que deve ser arrancado e plantar o que precisa ser plantado." (1205-1208).
→ Na Cruzada contra os Albigenses, 20.000 pessoas - inclusive a comunidade judaica local - foram massacradas quando a cidade de Bezziers foi tomada de assalto. (1209)
→ O Emblema da Vergonha
Em 1215, o IV Concílio de Latrão - conclamado pelo Papa Inocêncio III - decretou que, com base na passagem de Números 15:37-41, os judeus deveriam usar uma roupagem diferente (uma restrição também aplicada aos sarracenos, e mais tarde aos hereges, prostitutas e leprosos [o Código de Omar tivera isso decretado antes em países moslins]). Além disso, uma emblema para identificação social deveria ser usado em suas roupas – séculos depois os nazistas ressuscitariam a ideia com a estrela amarela –e faziam dos judeus verdadeiros párias sociais, expondo-os a abusos tanto verbais quanto físicos. Aos judeus não era permitido vestir as suas melhores roupas aos domingos ou andar em público em dias especiais como Páscoa. (1215)
IV Concílio de Latrão.
68. Judeus aparecendo em público
Uma diferença de vestuário distingue judeus ou sarracenos de cristãos em algumas províncias, mas em outros uma certa confusão se desenvolveu de tal forma que eles são indistinguíveis. De onde às vezes acontece que, por engano, os cristãos se unem a mulheres judias ou sarracenas, e a judeus ou sarracenos a mulheres cristãs. Para que a ofensa de tal maldita mistura não se espalhe ainda mais, sob a desculpa de um erro desse tipo, decretamos que tais pessoas de ambos os sexos, em todas as províncias cristãs e em todos os momentos, sejam distinguidas em público de outras pessoas pelo caráter de suas vestes - vendo, além disso, que isso foi imposto a elas pelo próprio Moisés, como lemos. Eles não aparecerão em público nos dias de lamentação e no domingo de paixão; porque alguns deles nesses dias, como ouvimos, não coram para desfilar com roupas muito ornadas e não têm medo de zombar de cristãos que estão apresentando um memorial da paixão mais sagrada e estão mostrando sinais de pesar. O que mais estritamente proibimos, porém, é que eles ousem de alguma maneira irromper em escárnio do Redentor. Nós ordenamos aos príncipes seculares que restrinjam com a devida punição aqueles que o fazem presumir, para que não ousem blasfemar de alguma forma aquele que foi crucificado por nós, já que não devemos ignorar insultos contra aquele que apagou nossos erros.
69. Judeus não devem ocupar cargos públicos
Seria absurdo demais para um blasfemo de Cristo exercer poder sobre os cristãos. Por isso, renovamos neste cânon, por conta da ousadia dos ofensores, o que o conselho de Toledo decretou nesta matéria: proibimos os judeus de serem nomeados para cargos públicos. Se, no entanto, alguém investir tal ofício a eles, deixe-o, após uma admoestação, ser refreado pelo conselho provincial, que mandamos realizar anualmente, por meio de uma sanção apropriada. Qualquer funcionário assim nomeado deve ser negado o comércio com os cristãos em negócios e em outros assuntos até que ele tenha convertido ao uso de cristãos pobres, de acordo com as instruções do bispo diocesano, o que ele obteve dos cristãos por causa de seu cargo adquirido e ele deve render com vergonha o cargo que ele irreverentemente assumiu. Nós estendemos a mesma coisa para os pagãos.
70. Judeus convertidos não podem manter seu antigo rito
Certas pessoas que vieram voluntariamente para as águas do batismo sagrado, como aprendemos, não descartam totalmente a velha pessoa a fim de vestir o novo com mais perfeição. Pois, mantendo os remanescentes de seu antigo rito, eles perturbam o decoro da religião cristã por meio de tal mistura. Desde que está escrito, “amaldiçoado é aquele que entra na terra por dois caminhos”, e um “vestido que é tecido de linho e lã não devem ser colocados juntos”, nós, portanto, decreto que tais pessoas devem ser totalmente impedidas pelos prelados das igrejas de observar seu antigo rito, para que aqueles que livremente se ofereciam à religião cristã pudessem ser mantidos à sua observância por uma coação salutar e necessária. Pois é um mal menor não conhecer o caminho do Senhor do que voltar atrás depois de tê-lo conhecido.
→ Em 1218, o rei Henrique II converteu o decreto do IV Concílio de Latrão em um decreto secular, ordenando a todos os judeus na Inglaterra que usassem distintivos na sua roupa exterior todo o tempo, para distingui-los dos cristãos. No mesmo ano, o papa Honório III publica a bula In generali concilio endossando a necessidade de que os judeus usassem roupa diferente e um Emblema da Vergonha com base na passagem de Números 15:37-41, os judeus deveriam usar uma roupagem diferente (uma restrição também aplicada aos sarracenos, e mais tarde aos hereges, prostitutas e leprosos). Mais tarde, foram obrigados a usar além do gorro escalarte, um chapéu pontudo chamado de pileum cornutum - (Sínodo de Viena 1267). (1218)
→ Durante o Concílio de Canterbury, os bispos ingleses emitiram uma injunção impedindo que cristãos vendessem provisões a judeus. Rapidamente a injunção tornou-se caótica para os judeus. Para neutralizar a fome que se alastrava, o ministro do rei, Hubert de Burgh, emitiu uma ordem proibindo aos súditos do rei, sob pena de prisão, de se recusarem a prover judeus com as provisões básicas. (1222)
→ Em 1222, o Concilio de Oxford proíbe que se construa novas sinagogas. (1222)
→ Se um pai judeu se convertesse ao catolicismo e a mãe judia insistisse em permanecer na velha religião, o Papa Alexandre III determinou que a guarda da criança deveria ser passada ao pai, “A criança, após três anos, deve ser entregue para ser criada pelo pai não-suspeito. Em caso a criança permanecesse com a mãe, poderia ela facilmente levá-la ao erro da infidelidade.”, diz ele. O Papa Gregório IX reforçou esse regramento nas suas Decretales. (1229/1234)
→ O papa Gregório estabeleceu a Inquisição para contrabalançar muitas heresias cristãs que brotaram devido a maiores liberdades, frutos do Renascimento do século XII. A função da Inquisição era desarraigar heresias antes que se espalhassem às massas. Tribunais eclesiásticos faziam as vezes de polícia, prossecução, juiz e júri. Autoridades seculares executavam as torturas e queimações aos hereges. Os judeus, naturalmente, eram especialmente vulneráveis à ataques durante esses expurgos. (1231)
→ O Papa Gregório IX queixou-se aos bispos na Alemanha que os judeus locais estariam sendo tratados demasiadamente bem. Proibiu com veemência relações amistosas entre cristãos judeus. (1232)
→ O Papa Gregório IX publicou o Dec. Nulli judæo [Nenhum judeu] aos Bispos de Astorga e Lugo, c. 1227-1234 d.C. proibindo que os judeus tivessem ou comprassem escravos cristãos ou que desejasssem o batismo. Nas suas Decretales, reforçou esse regramento. (c. 1227-1234)
→ O bispo de Lincoln declarou que era sina dos judeus estarem em situação de cativeiro em mãos dos príncipes da terra. Teriam, dizia ele, o labéu (marca) de Caim, sendo condenados a migrar pala face da terra. Mas teriam também o privilégio de Caim. Não deveriam ser mortos. (1235)
→ As comunidades judaicas em Anjou, Poitou, Bordeaux e Angouleme são atacadas por cruzados. 500 judeus escolheram a conversão e mais que 3.000 foram assassinados. O papa Gregório IX, que originalmente convocara a Cruzada, mostrou-se contrário a essa brutalidade, criticando o clero porque não a preveniu. (1236)
→ Na Bula Si vera sunt also, o papa Gregório IX exorta e proclama os Reis da França e Espanha a queimar o Talmud ou qualquer outro livro judaico que se fosse entendido que proferia blasfêmia. Em consequência, as cópias do Talmud na França tiveram de ser entregues às ordens dos franciscanos e dominicanos para serem examinadas. Livros judaicos e o Talmud foram apreendidos também na Inglaterra, havendo cremação de livros. Em Paris, 24 carradas de cópias do talmude foram queimadas. (1239–1242)
→ Em 25 de junho de 1240, realizou-se em Paris o julgamento do Talmud (processo al Talmud) a pedido de uma queixa movida pelo franciscano Nicolas Donin (1287). O julgamento ocorreu perante Eudes de Châteauroux (chanceler da Sorbonne). O julgamento levou ao confisco de livros judaicos: Em 20 de junho de 1242, 24 carroças foram queimadas na Praça de Grève.
→ O papa Inocêncio IV foi informado do processo e escreveu em 9 de maio de 1244 a carta Impia Judaeorum perfidia (A incredulidade dos judeus) destinada ao rei Luís IX da França. A carta critica teologicamente a fé dos judeus, rasga elogios ao regente chanceler, aos doutores de Sorbonne e a aprovação do rei, exortando o monarca que estenda a iniciativa de apreender e destruir todas as cópias do Talmud (o livro "fabuloso e profano") existentes a todas as partes do Reino, advertindo de que esta medida iria aproximá-los da Fé cristã (1240-1244).
→ Em Londres, judeus foram acusados de sacrifício ritual e condenados a pagar uma alta importância como punição. (1244)
→ Após a acusação de sacrifício ritual a ser muito difundida, provocando inúmeras atrocidades, o papa Inocêncio ordenou uma investigação da acusação, que chegou à conclusão de que a acusação era uma invenção anti-judaica. (1247)
→ O papa Inocêncio IV mandou confiscar e queimar todos os talmudes, mas tentou evitar que eles fossem linchados pelo populacho e exigiu que os cruzados não os massacrassem. É lembrado pela sua bula Ad Extirpanda: o documento que autorizou e regulamentou o uso de tortura pela Inquisição, era o apogeu de uma era que não será esquecida na História do cristianismo. Em 1270, o papa Alexandre IV reiterou a utilização do método para obter a confissão do herege ou puni-lo de maneira exemplar. (1252)
→ Após tortura, um judeu confessou que matou São Hugo de Licoln. O rei Henrique III ordenou seu enforcamento depois de arrastado vivo pelas ruas, atado num cavalo. Dezenas de judeus foram massacrados.
A história de Santo Hugo de Lincoln, 1255, (canonizado e declarado padroeiro das crianças) suposto mártir pelas mãos dos judeus foi incorporada ao “Conto da Priora” (The Prioress’ Tale) de Chaucer e é contado da seguinte forma:
Este conto começa com uma invocação à Virgem Maria e, em seguida, situa-se em uma comunidade de judeus que vivem em uma cidade cristã na Ásia. Um menino de sete anos de idade - filho de uma viúva - é criado para reverenciar Maria. Ele ensina a si mesmo o primeiro verso do popular hino medieval 'Alma Redemptoris Mater'. Embora ele não entenda as palavras, um colega de classe mais velho lhe diz que o hino fala sobre Maria. Ele começa a cantar todos os dias enquanto caminha para a escola pela rua dos judeus.
Satanás, "Que tem no coração dos Judeus o ninho de sua ninhada", incita os judeus a matarem a criança e jogarem seu corpo em um monte de lixo. Sua mãe procura por ele e finalmente encontra seu corpo, que começa milagrosamente a cantar a Alma Redemptoris Mater. Os cristãos chamam o reitor da cidade, que tem os judeus puxados por cavalos selvagens nas ruas e depois enforcados. O menino continua a cantar durante toda a sua Missa para os Mortos, até que o santo abade da comunidade lhe pergunta porquê ele é capaz de cantar mesmo morto. Ele responde que embora sua garganta esteja cortada, ele teve uma visão na qual Maria colocou um grão em sua língua e ele continuará cantando até que ele seja removido. O abade remove o grão e ele morre.
"Mesmo [no século dezenove] quando os judeus tiveram permissão de
participar na vida nacional, nenhuma década passou sem que eles, em um Estado
europeu ou outro, fossem acusados de matar crianças cristãs, para usar seu
sangue a fim de assar o pão da páscoa. A "difamação do sangue", vinda
como veio com explosões de violência popular contra os judeus, refletia
profundos preconceitos que nenhuma quantidade de modernismo ou educação liberal
pareceram capazes de ultrapassar. Ódio pelos judeus, com sua história de dois
mil anos, poderia surgir tanto como uma explosão espontânea de instintos
populares, como um instrumento propositalmente direcionado de política de bode
expiatório..." - Martim Gilbert - Churchill and the Jews (1255)
→ Estudantes, presbíteros e monges de Canterbury atacaram o bairro judaico. Populares saquearam os points judaicos de Londres em 1262 e 1264. (1261 e 1264)
→ Houve um debate em Barcelona (Espanha), diante do rei Tiago I, contando com nobresa, bispos e monges e judeus. Rábi Moisés ben Naleman foi obrigado a defender o talmude contra um judeu convertido, Pablo Christiani, que tentou provar a eficiência da Cristandade a partir do talmude. Como resultado, o rei Tiago ordenou que passagens do talmude que refutavam o cristianismo fossem apagadas. (1263)
→ O Papa Clemente IV manifesta furor na Bula Turbato Corde por notícias de conversão de cristãos ao judaísmo. Dirige-se a dominicanos e franciscanos instituindo Inquisidores dentre eles para investigar judeus que andassem a pregar aos cristãos e tratar dos eventuais cristãos que houvessem se convertido, autorizando a tratá-los como hereges. (1267)
→ Em 4 de Agosto de 1278, o papa Nicolò III publica a Bula Vineam Sorec dirigida a franciscanos na Áustria e Lombardia, ordenando o direcionamento de teólogos para que os judeus sejam submetidos à pregações compulsórias, introduzindo-os "às verdades da fé cristã". Assim como aos governantes seculares que facilitassem o acesso dos pregadores aos judeus e que não interferissem nisso. O instrumento da pregação compulsória havia sido introduzido na Espanha desde 1242 pelos dominicanos aragoneses e aprovado pelo poder soberano do país (1278).
→ Em 1279, o Sínodo do Ofen proíbe que cristãos vendam ou aluguem bens imobiliários a judeus. (1279)
→ Em 1298, a acusação de profanação da hóstia fez com que toda a população judaica de Rottingen fosse queimada. Os cristãos continuaram com um massacre de judeus por toda a Alemanha e Áustria. De acordo com as estimativas, 100.000 pessoas foram assassinadas e em torno de 140 comunidades judaicas dizimadas. (1298)
→ O Sínodo de Viena decretou que cristãos fossem proibidos a atender cerimônias judaicas. Judeus eruditos foram proibidos a discutir com cristãos simples. Os judeus tinham de usar chapéus cornudos, chamados de pileum cornutum. As pessoas realmente criam que os judeus tinham cornos que estavam escondendo embaixo desses chapéus, sendo crianças do diabo. (1267)
→ Diz Santo Tomás de Aquino em "Se os filhos dos judeus ou de outros infiéis devem ser batizados, mesmo contra a vontade dos pais": "Os judeus são escravos dos príncipes por uma servidão civil, não exclusiva ela ordem do direito natural ou divino" (Sum. Theol., II Parte, Quest. 10, Art. 12). Reitera que é mais fácil que um escravo pagão converta-se em caso de ter um senhor cristão, por isso é intolerável que pagãos e judeus tenham escravos cristãos, - até porque judeus são escravos da Igreja: "É mais provável a conversão do escravo, submetido às ordens do senhor, fiel à fé, que este tem, do que inversamente. Por isso não é proibido aos fiéis terem escravos infiéis." (Sum. Theol. - Secunda Secundae. Questão 10, Art. 9). Ipsi literis: "Os infiéis, como castigo da sua infidelidade, merecem perder o governo dos fieis, transformados em filhos de Deus. Mas isto a Igreja faz umas vezes e, outras, não. Assim, quanto aos infiéis a ela sujeitos, mesmo temporalmente, e aos seus membros, estabeleceu o direito seguinte. O escravo de judeus, uma vez tornado cristão, seja libertado da escravidão, sem nenhuma recompensa, se for escravo crioulo, isto é, nascido tal; e semelhantemente, se foi comprado como escravo, quando ainda era infiel. Se porém foi comprado para ser vendido, deve ser exposto à venda durante três meses. E nisto não comete a Igreja nenhuma injustiça, porque, sendo os judeus seus escravos, pode dispor das coisas deles, assim co.mo também os príncipes seculares fizeram muitas leis sobre os seus súditos, no interesse da liberdade." (Sum. Theol. - Secunda Secundae. Questão 10, Art. 10). Em De Regimine Judaeorum, ad Ducissam Brabantiae, São Tomás responde com um livro de 180 páginas a uma carta da Duquesa de Brabante questionando vários pontos sobre como deveriam ser tratados os judeus. Nas 100 primeiras, São Tomás explica longamente o que é o Estado, os reis, qual a função do governo e só começa a entrar na questão dos judeus a partir daí. Diz ele que os judeus devem ser mais tributados do que os cristãos, que excepcionalmente podem receber empregos públicos, a depender da necessidade do caso concreto do Estado, mas cita aquela passagem de São Paulo dizendo que a licitude não necessariamente convém, que os judeus devem ser forçados a usar distintivos e roupas diferentes dos cristãos, que os judeus devem ser mantidos em perpétua servidão por paga da sua culpa e que os príncipes devem confiscar periodicamente seus bens, deixando-lhes apenas o necessário para viver.
[É engraçado como o argumento da Igreja da ruptura de que o Estado era quem era o "malvadão" é fragilíssimo, mas de alguma forma ainda convence gente. Vemos aqui que o Estado relutava em f** com os judeus e a Igreja quem insistia nessa necessidade]. Em Summa Theologiae, endossa o parecer dos Sínodos anteriores que firmaram entendimento no sentido de não batizar filhos de judeus à força.
→ Em 1267, o Sínodo de Breslau estabelece o Primeiro Campo de Concentração conhecido, confinando judeus em Guetos obrigatórios.
→ Judeus foram massacrados na Alemanha: em Weissenberg, Magdeburg, Sinzig, Erfurt e outras cidades. Em Sinzig, a comunidade foi trancada na sinagoga num Sábado e queimada viva. (1270)
→ A principal sinagoga de Londres foi fechada. A razão apresentada foi que o canto incomodava a devoção dos monges na vizinhança. Os judeus tinham de reunir-se em casas particulares, mas até isso era restrito por ordem do bispo de Londres. (1272)
→ O Statutum Judeismo foi aprovado na Inglaterra sob o rei Eduardo I. A lei proibiu os judeus de cobrarem juros, restringiu áreas onde pudessem viver, mandou que todos a partir dos sete anos usassem o distintivo e exigiu que todos acima de doze pagassem uma taxa anual na Páscoa. Mas a lei permitiu também que judeus, pela primeira vez, arrendassem terra para lavoura e se tornassem comerciantes e artesãos. (1275)
→ Eduardo I acusou os judeus de moedeiros. Buscas de casa a casa ocorreram na Inglaterra inteira e 680 judeus foram jogados da Torre de Londres. Muitos foram enforcados e tiveram suas propriedades confiscadas pela coroa. (1278)
→ Em 4 de Agosto de 1278, o papa Nicolò III publica a bula Vineam Sorec ordenando que os judeus sejam submetidos à pregações compulsórias pelos bispos para que sejam inseridos "às verdades da fé cristã". O instrumento da pregação compulsória havia sido introduzido na Espanha desde 1242 pelos dominicanos aragoneses e aprovado pelo poder soberano do país (1278).
→ Na Polônia, autoridades civis tentaram integrar judeus à sociedade, mas a Igreja insistiu que os judeus ficassem isolados do resto da população. Na Espanha, os judeus foram forçados a ouvir sermões de conversão de monges nas suas próprias sinagogas. Fanáticos populares agrediram judeus contra as ordens das autoridades civis. (1280)
→ A maioria dos judeus espanhóis foram presos em suas sinagogas num Sábado de janeiro, mas soltos com a promessa de pagar uma grande importância de dinheiro como resgate. (1281)
→ O arcebispo de Canterbury fechou todas as sinagogas na sua diocese. (1282)
→ Dez judeus foram assassinados num pogrom em Mogúncia que ocorreu após uma acusação de sacrifício ritual. 26 judeus foram mortos como resultado duma acusação de sacrifício ritual em Bacharach. 40 judeus foram assassinados depois duma acusação de sacrifício ritual em Oberwesel. Em Munique, 180 judeus foram queimados vivos na sinagoga depois duma acusação de sacrifício ritual. (1283–1285)
→ Em 18 de julho, o rei Eduardo I, em Concílio, mandou que todos os judeus, sob pena de morte, deixassem o país até o dia primeiro de novembro. (1290)
→ Severas persecuções tomaram lugar na Francônia, Bavária e Áustria. Um nobre alemão, de nome Rindfleisch (era chamado de Judenschlächter [açougueiro de judeus]) juntou um pequeno exército e começou a matança de judeus de cidade em cidade. Em cerca de seis meses queimou e massacrou um número estimado de 100.000 judeus em 140 comunidades, incluindo Würzburg, Ratisbona, Nuremberga, Augsburg, Heilbronn e Rottingen. (1298)
→ Sob Filipe IV, todos os judeus do seu reino, aproximadamente 100.000, foram presos em 22 de julho. Foi lhes dito que deixassem o país dentro de um mês. Não poderiam levar senão suas roupas e provisões para um dia. Sua propriedade deixada para trás foi usada por Filipe para reencher a tesouraria real, esta que foi exaurida pelo seu feudo com o papa e sua guerra contra os flamengos. (1306)
→ João de Dirpheim, bispo de Estrasburgo, inquiriu os judeus de Sulzmatt e Rufach por acusação de profanação de hóstia. Foram queimados vivos. (1308)
→ A falta que os produtivos judeus traziam aos impostos reais logo foi sentida e o rei Luis X chamou de volta os judeus que foram expulsos da França. Eles, em troca, estabeleceram condições que foram atendidas, mas outra vez tinham de usar distintivos. (1315)
→ O papa João II ordenou a inquisição em Toulouse. Aí e em Perpignan, os talmudes foram queimados. Durante a Cruzada dos Pastores, 40.000 pastores e camponeses marcharam de Agen a Toulouse, matando qualquer judeu que não estava disposto a ser batizado. Em Verdun, 500 judeus fugiram para uma torre. Quando foram assediados à conversão, optaram pelo suicídio. 120 comunidades judaicas no sul da França e no norte da Espanha foram exterminadas. (1320)
→ Milhares de judeus foram assassinados por populares ao redor de Estella, incitados por um monge com sermões inflamados contra os judeus. (1328)
→ O bispo João de Dirpheim causou o massacre de judeus em Estrasburgo no aniversário da Conversão de São Paulo. (1338)
→ Quando a Peste Negra alastrava-se pela Europa (1347-1350), os judeus foram considerados responsáveis por envenenar os poços de água.
No sul da França, no norte da Espanha, na Suíça, Baviera, Renânia, Alemanha Oriental, Bélgica, Polônia e Áustria, acreditou-se na acusação e mais de 200 comunidades judaicas através de toda a Europa foram destruídas. A extensão da tragédia pode ser melhor avaliada pelo número de 10.000 vítimas na Polônia, já outros 10.000 foram mortos somente em três cidades da Alemanha (Erfurt, Mainz e Breslau) (1347)
→ A comunidade judaica de Basiléia foi queimada. 2.000 judeus pereceram em Estrasburgo. Em Worms, 400 judeus foram queimados. Em Oppenheim, os judeus queimaram-se a si mesmos, temendo a tortura. O mesmo aconteceu em Frankfurt. Em Mogúncia, 6.000 judeus foram queimados quando o populacho pôs fogo nas suas casas. Em Erfurt, a comunidade judaica de 3.000 judeus foi massacrada, e em Breslau todos os judeus pereceram. Em Viena, os judeus cometeram suicídio, aconselhados por seu rábi, para evitar tortura. As comunidades judaicas de Augsburg, Würzburg Munique foram destruídas. Os judeus foram expulsos de Heilbronn. Os judeus de Nuremberg que não fugiram, foram queimados num lugar que desde então é conhecido como Judenbühl. Os judeus de Königsberg foram massacrados. Em Bruxelas, aproximadamente 500 judeus morreram num massacre. (1349)
→ 12.000 judeus foram massacrados em Toledo. (1354)
→ Quando a peste voltou outra vez na Francônia, os judeus foram outra vez acusados de envenenar os poços. A peste matou milhares. Durante esse tempo, o mito de conspiração judaica foi inventado, mito esse que, apesar das suas absurdidades, continua sendo acreditado por parte da população local até hoje (1357)
→ Quando a guerra civil grassava entre o rei Pedro e Henrique de Trastamora, muitos judeus foram massacrados por mercenários empregados por ambos os lados. (1366 – 1369)
→ Em 1368, o Sínodo de Lavour proíbe que bens que já tenham pertencido à Igreja sejam vendidos ou transferidos à judeus. (1368)
→ O Directorium Inquisitorum: Manual dos Inquisidores, escrito por Nicolau Eymerich em 1376 e revisto e ampliado por Francisco de La Peña em 1578:
"Jurisdição da Inquisição no que diz respeito aos infiéis e a todos aqueles que se opõem à fé cristã: De uma maneira geral, consideram-se como hereges - e passíveis, como tais, dos rigores da Inquisição - judeus e infiéis, demonólatras, semeadores de heresias e culpados de qualquer crime contra a fé cristã? … Outras verdades do Antigo Testamento são comuns a nós e a eles. De acordo com elas, os judeus não são diferentes de nós e não devemos considerá-los nem vê-los como judeus. (Por exemplo: a fé em um único Deus e a fé em um Deus criador de todas as coisas. Os judeus que negam essas verdades devem ser considerados hereges e tratados como tais aos olhos de sua própria teologia).
Mas, justamente por concordarem conosco neste tipo de verdades, atacam frontalmente a lei cristã os que as negam! Devem ser, portanto, obrigados pelos juízes da fé cristã - bispos e inquisidores - a respeitar essas verdades, que são suas também, e a segui-las escrupulosamente! E quem cometer este tipo de crime será condenado pelo bispo e pelo inquisidor como herege contra a sua própria religião. …
Mas dirão que isto não diz respeito aos infiéis propriamente ditos e que a questão sobre os crimes decorrentes da mais absoluta infidelidade é inteiramente da jurisdição papal (portanto, da Inquisição)? Achamos que o Papa, vigário de Jesus Cristo, não tem poder apenas sobre os cristãos, mas também sobre todos os infiéis. O poder universal de Cristo é reafirmado claramente no salmo 71 ('Ó Deus, concede ao Rei tua equidade, ao filho do Rei, tua justiça'). Cristo não teria sido um bom pater familias se não tivesse legado ao seu vigário na terra o seu poder absoluto sobre os homens. Ele não deu a Pedro e a seus sucessores o poder de ligar e desligar, e não lhe ordenou que apascentasse as ovelhas? Ora, todos os homens, sejam fiéis ou infiéis, são ovelhas de Cristo, pelo simples fato de terem sido criados, apesar de nem todas as ovelhas serem do rebanho da Igreja. Resulta disto tudo, necessariamente, que o Papa, de direito e de fato, estende o seu poder sobre todos os homens.
Em virtude desse poder, não vejo por que o Papa deveria se abster de punir o gentio que se opõe às leis da natureza, porque não conhece outra! A prova? Deus puniu os sodomitas que pecavam contra as leis da natureza (Gn 19)! Ora, os julgamentos de Deus são exemplos para nós! Então, por que o Papa não procederia, se tivesse os meios, como Deus procede? Efetivamente, está de acordo com as leis naturais adorar um só Deus criador, e não criaturas.
O Papa deve julgar também os judeus, caso se oponham às suas próprias leis. Não se tolera a sobrevivência do rito judaico porque constitui um argumento em favor da fé cristã? Os judeus podem, então, abandoná-lo para abraçar o cristianismo, mas não podem, de maneira alguma, modificá-lo, pois se assim procedessem estariam profanando um testemunho válido da fé cristã. Assim, cabe ao Papa e aos inquisidores julgar qualquer distorção do rito judaico, se os 'prelados' judeus se mostrarem omissos. Os judeus acusados de cometer heresia contra a própria fé serão, então, condenados. São estas as razões que levaram os Papas Gregório XI e Inocêncio III a mandar para a fogueira livros judaicos que continham várias heresias e erros contra o judaísmo e a castigar quem as divulgasse e ensinasse.
O poder do Papa sobre os cristãos é indiscutível. Ele pode punir quando houver infração às leis do Evangelho. … E que ninguém venha nos dizer que não devemos julgar o que nos é estranho, ou que não podemos obrigar os infiéis a crer, nem através de processos nem através das excomunhões, porque só Deus chama por sua graça exclusivamente: quem pretende tirar desta maneira nossos poderes jurídicos, se engana. …
Mas há um outro tipo de infiel: os que já receberam o dom da fé, beneficiaram-se com isso (como os hereges e os apóstatas). Quanto a estes, a Igreja deve puni-los fisicamente e obrigá-los a manter 'o que prometeram e conservar o dom que receberam'.
Muitos inimigos da verdade atacam-na de diversas maneiras, tentando provar, por exemplo, que cabe aos senhores temporais, e não aos prelados e inquisidores, julgar e condenar judeus, muçulmanos e outros delinquentes em matéria de fé. Estes inimigos da verdade alegam, para se beneficiar, dois tipos de argumentos: canônicos e do Direito Civil. Os argumentos tirados do Direito Canônico são refutados por argumentos canônicos. Quanto aos argumentos jurídicos ou do Direito Civil, alegados por quem pretende esvaziar a Inquisição de seus poderes, aqui vão eles: …
O poder civil proíbe os judeus de pôr em evidência suas próprias festas rituais, seja através de evocações injuriosas aos mistérios da fé cristã, seja através de disfarces sacrílegos. Cabe, portanto, ao poder civil investigar essas práticas e reprimi-las.
Sem dúvida! Mas cabe ao inquisidor, e não ao poder civil, afastar os infiéis da comunidade cristã, persegui-los e julgá-los previamente.
Ressalta-se que este ou aquele príncipe condena judeus à morte: portanto, isso não é uma tarefa da Igreja, mas do poder civil.
O fato de serem condenados à morte pelos príncipes não exclui a Igreja de fazer o mesmo, se achar válido, depois do processo. Por outro lado, a Igreja deve intervir para condenar onde, justamente, reis e príncipes tenham a audácia de proteger os judeus. Sem a Igreja, sob o pretexto de que cabe ao poder civil condenar, esses hereges seriam, na verdade, protegidos. …
De uma maneira geral, contra quem o inquisidor pode proceder?
Já dissemos que pode proceder contra os blasfemadores, lançadores de sortilégios e feitiçarias, necromantes, excomungados, apóstatas, cismáticos, neófitos que retornaram aos erros anteriores, certa espécie de pecadores e escandalizadores das gentes, judeus, infiéis que vivem no meio dos cristãos, invocadores do diabo. Digamos que, de uma maneira geral, o inquisidor procede contra todos os suspeitos de heresia, os difamados de heresia, hereges, seus seguidores, quem lhes dá guarida ou ajuda e quem emperra o trabalho do Santo Ofício, retardando, direta ou indiretamente, sua ação." (EYMERICH, Nicolau e PEÑA, Francisco de La. Directorium Inquisitorum: Manual dos Inquisidores, escrito pelo Inquisidor Nicolau Eymerich em 1376 e revisto e ampliado por Francisco de La Peña em 1578. p. 61-65. Brasília: 1ª ed., Rosa dos Tempos, 1993)
→ Os judeus de Nördlingen foram atacados e massacrados. (1384)
→ Em Praga, em 1389, um sacerdote carregando uma hóstia foi acidentalmente salpicado de areia por algumas crianças judias que brincavam. Em consequência disto, 3.000 judeus foram massacrados.
→ Os judeus utilizam a expressão Batismo Forçado para se referir ao batismo escolhido como uma alternativa entre a morte ou o exílio. Este batismo tornou-se uma grande questão na Espanha Medieval. Em 1391, quando cerca de 50.000 judeus morreram em arruaças instigadas pela pregação de Ferrand Martinez, um arquidiácono de Sevilha, um grande número de judeus (160.000) foram batizados, inclusive muitos rabinos. Em muitas cidades da Espanha, sinagogas e mesquitas foram transformadas em igrejas, e comunidades judaicas sofreram terríveis perseguições. O batismo forçado dividiu os judeus entre aqueles que ainda praticavam sua fé em segredo e os acomodados por causa de vantagens pessoais. Ambos os grupos eram chamados de “marranos” (porcos). Em Barcelona, 300 judeus foram assassinados ou cometeram suicídio como alternativa a renunciar à Fé. 11.000 judeus se deixaram ser batizados. (1391)
→ Em Posen, Polônia, um rábi e 13 anciãos da comunidade judaica foram lentamente queimados até que morressem, sob acusação de terem apunhalado a hóstia e a jogado numa cova. Rumores circularam de que a hóstia teria sangrado, o que, naturalmente, confirmava o dogma da Eucaristia. (1399)
→ Em 1401 foram queimados vivos 48 judeus em Schaffhausen (Suíça). (1401)
→ Os fogosos sermões do monge e reformador Vicente Ferrer causaram opressivas ações contra os judeus na Espanha e agressões de populares. O número de batismos forçados é estimado em 20.000 em Castela e Aragão. (1407)
→ O papa Martinho V e os reis espanhóis restauram direitos judaicos. Sinagogas e cópias de Talmude são-lhes devolvidos. (1419)
→ A Cruzada contra os hussitas na Boêmia e Morávia causaram muito mal à comunidades judaicas. Na sua marcha a Praga, o exército do imperador alemão Sigismundo, com mercenários holandeses, destruiu comunidades judaicas ao longo do rio Reno, na Turíngia e na Bavária, tudo como vingança pela morte de Jesus. (1422)
→ Uma bula, editada pelo papa Martinho V, proibiu os capitães do mar de transportarem judeus à Terra Santa. Também, numa outra bula, exigiu a proteção dos judeus, estabelecendo direitos da comunidade, entre estes permitindo aos judeus estudarem em universidades. (1427–1429)
→ Uma acusação de sacrifício ritual levou à destruição de comunidades judaicas alemãs em Ravensburg, Überlingen e Lindau. (1431)
→ Os judeus foram expulsos de Saxônia. (1432)
→ O Concílio de Basiléia, presidido pelo papa Eugênio IV, revogou as liberdades que Martinho V tinha conferido. Os judeus tinham de viver em bairros separados das cidades, atender sermões de conversão e não tinham permissão de frequentar universidades ou receberem títulos acadêmicos. Além disso, também proíbe que judeus atuem como intermediários em transações comerciais, imobiliárias ou contratos de casamentos. A sessão XIX de 7 de Setembro de 1434 do Concílio de Basileia (Decretum de Judaeis et neophytis) confirma as disposições que postulam que judeus devem ser submetidos à pregações compulsórias estabelecidas pelo papa Nicolò III na bula Vineam Sorec (1434).
→ Os judeus de Venécia tinham de usar o distintivo amarelo. (1443)
→ As Ordenações Afonsinas destinam inúmeros títulos para tratar especificamente dos judeus e islâmicos, dentre os quais:
• Que os Judeus não entrem na casa de Cristãos, nem os Cristãos na casa dos Judeus - Título LXVII.
• Como deverão ser feitos os contratos entre cristãos e judeus - Título LXXIII.
• Que nenhum Judeu fale mal de outro Critão, nem fale mal de outro Judeu - Título LXXXXVI
• Do Judeu, ou Mouro, que dorme com alguma Cristã, ou do Cristão que dorme com alguma Moura ou Judia - Título XXV.
• Do Judeu ou Mouro que está entre os Cristãos, dizendo ser Cristão - Título XXVI. (1446)
→ O papa Nicolau V, numa bula, confirmou as velhas exclusões de judeus da sociedade cristã e de todas as profissões honestas. João de Capistrano foi apontado pelo papa para orientar a Inquisição dos judeus. Nos seus sermões repetia as acusações de sacrifício ritual e profanação de hóstia, o que levou a persecuções em Breslau sob o rei Ladislau da Silésia. (1451)
→ Capistrano na Polônia excita os cristãos em seus sermões a atacarem comunidades judaicas na Polônia. (1454)
→ Tropas poloneses em marcha à Cruzada contra os turcos atacaram os judeus de Cracóvia, matando cerca de 30. (1457)
→ Em 1480, o Rei Fernando e a rainha Isabel da Espanha, estabeleceram um tribunal para expurgar a Igreja daqueles que clandestinamente apegavam-se à sua fé judaica (a política de batismos forçados causou danos à cristandade da Península Ibérica a longo prazo, em virtude do número massivo de judeus que se convertiam artificialmente à fé para fugir do expurgo ou morte). Seguiram-se prisões em massa e a Inquisição Espanhola. Em 1481, as primeiras vítimas foram executadas na fogueira. No decorrer dos anos, uma estimativa de 30.000 marranos (termo pejorativo para se referir aos judeus, que significava “porcos”) foram entregues às chamas. A Inquisição Espanhola teve uma longa história (do século XV até o início do século XIX) e um vasto alcance geográfico, espalhando-se com todas as suas bem documentadas atrocidades até à América Latina. (1480)
→ O papa Sixtus IV pbulica a Bula Numquam dubitavimus, autorizando Fernando de Aragão a nomear Inquisidores para extirpar a heresia e impedir práticas judaicas entre os que haviam sido convertidos ao cristianismo. (1482)
→ Todos os judeus foram expulsos da Espanha católica. (1492)
Ainda naquele ano, Alexandre VI subiu ao poder do papado subornando cardeais. Foi acusado de desviar dinheiro para a família, vendeu posições eclesiásticas, gerou sete filhos bastardos e mandou matar hereges para confiscar suas propriedades. Na imaginação popular, ainda hoje "Bórgia" é sinônimo de libertinagem - a lenda mais picante é que teria cometido incesto com a própria filha. No entanto, decidiu aceitar em Roma os judeus que haviam sido expulsos da Espanha.
→ Em Lisboa, uma animalidade particularmente violenta ocorre: Foi chamada de Pogom de Lisboa, Matança da Páscoa ou Massacre de Lisboa de 1506. Uma multidão de católicos perseguiu, torturou e matou (segundo o cronista contemporâneo Garcia de Resende em Chronica do El-Rei D. João II) um número aproximado de 4.000 judeus acusando-os de serem a causa da seca, da fome e da peste que assolava o país. Nove anos antes, em 1492, Dom Manuel I protagonizara em Portugal uma réplica da perseguição semita da Espanha ao forçar os 93 mil judeus refugiados (que fugiram da Espanha) à conversão. O Massacre teve início quando, em 19 de Abril de 1506, um frade dominicano indeterminado disse ter visto um Sinal de Deus: o rosto de Jesus no altar do Convento de São Domingos de Lisboa. Pelo que foi narrado, um cristão-novo (judeu convertido) que participava da missa tentou explicar que esse "milagre" foi produzido pelo reflexo da luz sobre os espelhos e cerâmicas, sendo rapidamente espancado até a morte por ateísmo e blasfêmia. Os frades dominicanos passaram a prometer absolvição dos pecados dos últimos 100 dias em troca da vida dos hereges. Tem-se uma escalada da violência que vai durar até 21 de Abril (Semana Santa) e homens, mulheres e crianças foram torturados, queimados e massacrados nesse genocídio. As principais fogueiras foram acesas no Rossio - junto ao largo de São Domingos.
A questão é que nem os marranos (termo pejorativo que significa porco e que os cristãos usavam para se referir aos judeus) convertidos ao cristianismo estavam seguros da violência. Alguns desses cristãos-novos escreveram obras antissemitas extremamente hostis, pretendendo causar dano à Comunidade Judaica mundial. Vítor de Carben em 1505, João Pfefferkorn em 1509 e Antônio Margharita em 1530 foram os mais famosos em Portugal no período.
(Na foto, o Monumento em Lisboa inaugurado em 26 de Abril de 2008 em frente ao Largo de São Domingos faz uma homenagem aos Judeus mortos no massacre de 1506. Lê-se: "EM MEMÓRIA DOS MILHARES DE JUDEUS VÍTIMAS DA INTOLERÂNCIA E DO FANATISMO RELIGIOSO. ASSASSINADOS NO MASSACRE INICIADO A 09 DE ABRIL DE 1906 NESTE LARGO")
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→ O imperador Maximiliano autorizou João Pfefferkorn a destruir qualquer coisa que fosse blasfema ou hostil à Cristandade. Começou em Frankforte no rio Meno, onde vasculhou lares judaicos e sinagogas, confiscando mais que 1.500 manuscritos. (1509)
→ No tempo da Reforma, o papa editou uma bula: Cum nimis absurdum. Essa é reconhecida como o documento cristão antijudaico mais devastador da História. Requereu que os judeus usassem distintivos de ignomínia, vivessem em guetos (guetos – era o nome que se dava aos bairros de algumas cidades em que os judeus eram obrigados a morar. Viviam ali em muita pobreza, sendo oprimidos, perseguidos e ocasionalmente sujeitos à regimes de semi-escravidão), primeiro na Itália, depois no Império Austríaco e vendessem quaisquer propriedades fora dos muros do gueto. (1517)
→ No início da Reforma Protestante, Lutero imaginava que os judeus iriam se converter ao protestantismo. Pois defendia a tese de que os judeus optavam por não se converter ao cristianismo devido aos abusos do catolicismo contra o povo judeu ao longo da História.
Em 1519, Lutero desafiou a doutrina Servitus Judaeorum (Servidão dos Judeus), estabelecida em Corpus Juris Civilis pelo pai da Igreja Justiniano I de 529-534:
"Os teólogos absurdos defendem o ódio pelos judeus. (...) Que judeu consentiria em entrar em nossas fileiras quando vir a crueldade e a inimizade que causamos neles - que em nosso comportamento em relação a eles nós menos nos parecemos com cristãos do que bestas?" - Luther - But Were They Good for the Jews? (quoted in Elliot Rosenberg) (1519)
→ Sobre esses abusos Lutero também escreveu em 1523:
"Talvez eu consiga atrair alguns judeus para a fé cristã, pois nossos tolos - os papas, bispos, sofistas e monges - até agora os têm tratado tão mal que se eu fosse judeu e visse esses idiotas desprovidos de inteligência governando e ensinando a religião cristã, eu também preferiria ser um marrano (porco) a ser um cristão. Pois esses homens trataram os judeus como cães, e não como seres humanos. Eles fizeram pouco mais que ridicularizá-los e apreender sua propriedade. Quando os batizam, não lhes mostram nada da doutrina ou vida cristã, mas apenas os sujeitam ao papismo e ao escárnio. Se os apóstolos, que também eram judeus, tivessem tratado os gentios, como nós, os gentios, tratamos com os judeus, nunca teria havido um cristão entre os gentios. Quando estamos inclinados a nos gabar de nossa posição [como cristãos] devemos lembrar que somos apenas gentios, enquanto os judeus são da linhagem de Cristo. Somos estrangeiros e sogros; eles são parentes de sangue, primos e irmãos de nosso Senhor. Assim sendo, se alguém se orgulha de carne e sangue, os judeus estão mais próximos de Cristo do que nós... Se realmente queremos ajudá-los, devemos ser guiados em nossos tratos com eles, não pela lei papal, mas pela lei do amor cristão. Devemos recebê-los cordialmente e permitir que eles negociem e trabalhem conosco, para que tenham oportunidade de se associar com nosso povo, ouvir nosso ensinamento cristão e testemunhar nossa vida cristã. Se alguns deles se mostrarem rígidos, e daí? Afinal, nós mesmos não somos todos bons cristãos." - Martinho Lutero - Que Jesus Cristo Nasceu Judeu (1523)
→ Quando Lutero percebe que com Reforma ou sem Reforma os judeus não iriam se converter, o Protestantismo volta-se violentamente contra os judeus. E, o ódio de Lutero para os judeus iria circular por toda a Alemanha até que, quatro séculos depois, teríamos a ascensão do nazismo.
→ No tempo da Reforma, o papa editou uma bula: Cum nimis absurdum. Essa é reconhecida como o documento cristão antijudaico mais devastador da História. Requereu que os judeus usassem distintivos de ignomínia, vivessem em guetos (guetos – era o nome que se dava aos bairros de algumas cidades em que os judeus eram obrigados a morar. Viviam ali em muita pobreza, sendo oprimidos, perseguidos e ocasionalmente sujeitos à regimes de semi-escravidão), primeiro na Itália, depois no Império Austríaco e vendessem quaisquer propriedades fora dos muros do gueto. (1517)
→ No início da Reforma Protestante, Lutero imaginava que os judeus iriam se converter ao protestantismo. Pois defendia a tese de que os judeus optavam por não se converter ao cristianismo devido aos abusos do catolicismo contra o povo judeu ao longo da História.
Em 1519, Lutero desafiou a doutrina Servitus Judaeorum (Servidão dos Judeus), estabelecida em Corpus Juris Civilis pelo pai da Igreja Justiniano I de 529-534:
"Os teólogos absurdos defendem o ódio pelos judeus. (...) Que judeu consentiria em entrar em nossas fileiras quando vir a crueldade e a inimizade que causamos neles - que em nosso comportamento em relação a eles nós menos nos parecemos com cristãos do que bestas?" - Luther - But Were They Good for the Jews? (quoted in Elliot Rosenberg) (1519)
→ Sobre esses abusos Lutero também escreveu em 1523:
"Talvez eu consiga atrair alguns judeus para a fé cristã, pois nossos tolos - os papas, bispos, sofistas e monges - até agora os têm tratado tão mal que se eu fosse judeu e visse esses idiotas desprovidos de inteligência governando e ensinando a religião cristã, eu também preferiria ser um marrano (porco) a ser um cristão. Pois esses homens trataram os judeus como cães, e não como seres humanos. Eles fizeram pouco mais que ridicularizá-los e apreender sua propriedade. Quando os batizam, não lhes mostram nada da doutrina ou vida cristã, mas apenas os sujeitam ao papismo e ao escárnio. Se os apóstolos, que também eram judeus, tivessem tratado os gentios, como nós, os gentios, tratamos com os judeus, nunca teria havido um cristão entre os gentios. Quando estamos inclinados a nos gabar de nossa posição [como cristãos] devemos lembrar que somos apenas gentios, enquanto os judeus são da linhagem de Cristo. Somos estrangeiros e sogros; eles são parentes de sangue, primos e irmãos de nosso Senhor. Assim sendo, se alguém se orgulha de carne e sangue, os judeus estão mais próximos de Cristo do que nós... Se realmente queremos ajudá-los, devemos ser guiados em nossos tratos com eles, não pela lei papal, mas pela lei do amor cristão. Devemos recebê-los cordialmente e permitir que eles negociem e trabalhem conosco, para que tenham oportunidade de se associar com nosso povo, ouvir nosso ensinamento cristão e testemunhar nossa vida cristã. Se alguns deles se mostrarem rígidos, e daí? Afinal, nós mesmos não somos todos bons cristãos." - Martinho Lutero - Que Jesus Cristo Nasceu Judeu (1523)
→ Quando Lutero percebe que com Reforma ou sem Reforma os judeus não iriam se converter, o Protestantismo volta-se violentamente contra os judeus. E, o ódio de Lutero para os judeus iria circular por toda a Alemanha até que, quatro séculos depois, teríamos a ascensão do nazismo.
"Eles [judeus] certamente devem ser o povo vil e prostituto, isto é, nenhum povo de Deus, e sua vanglória de linhagem, circuncisão e lei deve ser considerada imundície. … Não há outra explicação para isso além da citada anteriormente por Moisés, a saber, que Deus os atingiu com 'loucura, cegueira e confusão mental' (cf. Dt 28:28). Por isso, somos até culpados por não vingar todo esse sangue inocente de nosso Senhor e dos cristãos que eles derramaram por trezentos anos após a destruição deJerusalém, e o sangue das crianças que eles derramaram desde então (que ainda brilha em seus olhos e pele). Somos culpados por não matá-los. Em vez disso, permitimos que eles vivam livremente em nosso meio, apesar de seus assassinatos, maldições, blasfêmias, mentiras e difamações. Nós protegemos suas sinagogas, casas, vidas e propriedade. … Eles [os judeus] são um fardo pesado, uma praga, uma pestilência, uma desgraça absoluta para nosso país. A prova disso é o fato de que muitas vezes foram expulsos à força de um país, longe de serem mantidos cativos nele. Assim, eles foram banidos da França. Muito recentemente eles foram banidos pelo nosso querido Imperador Carlos de Espanha, o maior ninho [judeu] de todos. Este ano foram expulsos de toda a Coroa da Boémia, onde tinham um dos maiores ninhos, em Praga. Da mesma forma, durante minha vida, eles foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo, e de outros lugares. … Vou dar-lhe o meu conselho sincero: Primeiro, incendiar suas sinagogas ou escolas e enterrar e soterrar definitivamente tudo o que não queime, para que nenhum homem jamais veja uma pedra ou cinza deles. … Em Deuteronômio [cf. 13:12] Moisés escreve que qualquer cidade entregue à idolatria será totalmente destruída pelo fogo, e nada dela será preservado. Se ele estivesse vivo hoje, seria o primeiro a incendiar as sinagogas e casas dos judeus. … Em segundo lugar, aconselho que suas casas também sejam arrasadas e destruídas. Pois eles perseguem nelas os mesmos objetivos que em suas sinagogas. Em vez disso, eles podem ser alojados sob um mesmo teto ou em um celeiro, como os ciganos. Isso lhes mostrará o fato de que eles não são donos da terra, mas prisioneiros por suas mentiras e blasfêmias. Terceiro, aconselho que todos os seus livros de orações e escritos do Talmud, nos quais tal idolatria, mentira, maldição e blasfêmia são ensinados, sejam retirados deles. Quarto, aconselho que seus rabinos sejam proibidos de ensinar doravante sob pena de perda de vida e membros. … Quinto, aconselho que o salvo-conduto nas estradas seja abolido completamente para os judeus. Pois eles não têm negócios no campo, pois não são senhores, oficiais, comerciantes ou semelhantes. Deixe-os confinados em casa. … vocês também não podem e não devem protegê-los, a menos que desejem se tornar participante de suas abominações aos olhos de Deus. Considere cuidadosamente o que de bom poderia advir disso e evite-o. … Sexto, aconselho que a usura seja proibida para eles, e que todo dinheiro e tesouro de prata e ouro sejam retirados deles e guardados em segurança. A razão para tal medida é que, como dito acima, eles não têm outro meio de ganhar a vida além da usura, e por meio dela eles nos roubaram e roubaram e possuem. … Sétimo, recomendo colocar um mangual, um machado, uma enxada, uma pá, uma roça ou um fuso nas mãos de judeus e judias jovens e fortes e deixá-los ganhar o pão com o suor de sua testa. … Mas se nós tememos que possam nos prejudicar ou às nossas esposas, filhos, servos, gado, etc., … então, vamos imitar o bom senso de outras nações como França, Espanha, Boêmia, etc., … e então expulsá-los para sempre do país. … Em resumo, queridos príncipes e senhores, aqueles de vocês que têm judeus sob seu governo: se meu conselho não os agrada, encontrem uma solução melhor, para que vocês e todos nós possamos nos livrar do fardo insuportável e diabólico, os judeus. Para que não nos tornemos participantes culpados diante de Deus nas mentiras, blasfêmias, difamações e maldições com as quais os judeus loucos se entregam tão livremente e arbitrariamente contra a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, sua querida mãe, todos os cristãos, toda autoridade e nós mesmos. Não lhes conceda proteção, salvo-conduto ou comunhão conosco. Não os ajude e incite-os a adquirir seu dinheiro ou o dinheiro e propriedade de seus súditos por meio de usura. … Quando pores os olhos ou pensar em um judeu, você deve dizer a si mesmo: olhe esta boca maldita, que todo sábado ofende meu querido Senhor Jesus Cristo, que me redimiu com seu precioso sangue; além disso, orou e implorou diante de Deus para que eu, minha esposa e filhos, e todos os cristãos, pudéssemos ser esfaqueados até a morte e perecer miseravelmente. E ele mesmo faria isso de bom grado, se pudesse, para se apropriar de nossos bens. Talvez ele tenha cuspido no chão muitas vezes neste mesmo dia, amaldiçoando Nosso Senhor? De modo que a saliva maldita ainda está grudada em sua boca e barba. Se eu comesse, bebesse ou falasse com essa boca diabólica, eu comeria ou beberia no prato ou no copo cheio de demônios, assim como certamente me tornaria uma côrte de todos os demônios que habitam nos judeus e que zombam do precioso sangue de Cristo. Que Deus me guarde disso! Não podemos evitar que eles não compartilhem nossa crença. É impossível converter alguém à força. No entanto. devemos evitar … sermos cúmplices em seus discursos e delírios diabólicos, protegendo-os nas estradas, garantindo moradia, comida, bebida ou asilo. … Mas se as autoridades estiverem relutantes em usar a força e restringir a libertinagem diabólica dos judeus, estes últimos devem, como dissemos, ser expulsos do país. … Consequentemente, deve e não ousa ser considerado um assunto insignificante, mas muito sério, buscar conselho contra isso e salvar nossas almas dos judeus, isto é, do diabo e da morte eterna. Meu conselho, como eu disse antes, é: Primeiro, que suas sinagogas sejam incendiadas e que todos os que puderem joguem enxofre e piche; seria bom se alguém também pudesse lançar algum fogo do inferno. … Em segundo lugar, que todos os seus livros, seus livros de orações, seus escritos talmúdicos, também a Bíblia inteira, sejam retirados deles, sem deixar uma folha, e que estes sejam preservados para aqueles que podem ser convertidos. … Terceiro, que sejam proibidos, sob pena de morte, de louvar a Deus, agradecer, orar e ensinar publicamente entre nós e em nosso país. … Quarto, que sejam proibidos de pronunciar o nome de Deus ao nosso alcance. … Portanto, não devemos considerar a boca dos judeus digna de pronunciar o nome de Deus ao nosso alcance. Aquele que ouvir esse nome de um judeu deve informar as autoridades, ou então jogar esterco nele quando o vir e afugentá-lo. E que ninguém seja misericordioso e gentil a esse respeito, pois a honra de Deus e a salvação de todos nós, inclusive dos judeus, estão em jogo! … Queime suas sinagogas, proíba tudo o que enumerei anteriormente, force eles para trabalhar e lidar com eles duramente, como Moisés fez no deserto, matando três mil para que todo o povo não pereça. … Eu cumpri meu dever. Agora deixe todos cuidarem dele. Estou exonerado." - Martinho Lutero - Dos Judeus e suas Mentiras (Von den Juden und ihren Lügen) (1543)
→ Do Nome Incognoscível e as Gerações de Cristo (Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi). Neste último, descreve os judeus como filhos do Diabo e na sua capa trás a seguinte ilustração, assim descrita em Hamphoras "Aqui em Wittenburg, em nossa igreja paroquial, há uma porca esculpida na pedra sob a qual jazem porcos jovens e judeus que estão sugando; atrás da porca está um rabino que está levantando a perna direita da porca, agacha-se atrás da porca e olha com grande diligência para o Talmud sob o traseiro da porca, como se quisesse ler e ver algo nítido e especial. Eles certamente têm seu Shem Hamphoras naquele lugar [trocadilho alemão com 'Shem HaMephorash', o termo rabínico para o Inefável Nome de Deus, aqui, Lutero está afirmando que o Deus dos judeus está no cu da porca, animal impuro para eles]." E ele ainda complementa citando um suposto ditado alemão. "Quando alguém finge ser muito inteligente sem razão: [diz-se] onde ele leu isso? No traseiro da porca!”
→ Em suas Table Talk (Tischreden), 1566, ainda comenta um adicional: "Quem puder que atire-lhes enxofre e alcatrão; se alguém puder lançálos no fogo do inferno, tanto melhor … E isto deve ser feito em honra de Nosso Senhor e do Cristianismo. Sejam suas casas despedaçadas e destruídas … Sejam-lhes confiscados seus livros de orações e talmudes, bem como toda a sua Bíblia. Proíba-se seus rabinos de ensinar, sob pena de morte, de agora em diante. E se tudo isso for pouco, que sejam expulsos do país como cães raivosos."
→ "Depois que as questões principais forem resolvidas, devo começar a expulsar os judeus. O conde Albrecht é hostil a eles e já os baniu. Mas ninguém os molesta ainda. Se Deus permitir, ajudarei o conde Albrecht do púlpito e os banirei também." - Martinho Lutero - Carta de Lutero para sua esposa Eisleben Lutero (Letter 316, Luther to Mrs. Martin Luther, February 1, 1546," L, 291)
→ Lutero fez campanha com sucesso contra os judeus na Saxônia, Brandemburgo e Silésia. Em agosto de 1536, o príncipe de Lutero, John Frederick I, Eleitor da Saxônia, emitiu um mandato que proibia os judeus de habitar, fazer negócios ou passar por seu reino. Um shtadlan da Alsácia, o rabino Josel de Rosheim, solicitou ao reformador Wolfgang Fabricius Capito que se aproximasse de Lutero a fim de obter uma audiência com o príncipe, mas Lutero recusou qualquer intercessão. Em resposta ao requerimento, Lutero respondeu: "... Eu faria de bom grado o meu melhor por seu povo, mas não contribuirei para sua obstinação [judaica] por meio de minhas próprias ações bondosas. Você deve encontrar outro intermediário com meu bom senhor." (Martin Luther and the Jews - E. Gordon Rupp | Luther: Man Between God and the Devil - Heiko Oberman)
→ No penúltimo Sermão de Lutero Eisleben, em 18 de fevereiro de 1546, pouco antes de sua morte, Lutero pregou contra os judeus o que chamou de "advertência final". "Queremos lidar com eles de maneira cristã agora. Ofereça-lhes a fé cristã de que aceitariam o Messias, que é até mesmo seu primo e nasceu de sua carne e sangue; e é corretamente a Semente de Abraão, da qual eles se orgulham. Mesmo assim, estou preocupado [que] o sangue judeu não pode mais se tornar aguado e selvagem. Em primeiro lugar, você deve propor a eles que se convertam ao Messias e se deixem ser batizados, para que possamos ver que isso é um assunto sério para eles. Do contrário, não permitiríamos que eles [vivessem entre nós], pois Cristo nos ordena que sejamos batizados e acreditemos Nele, embora não possamos agora crer tão fortemente como deveríamos, Deus ainda é paciente conosco." (Johann Georg Walch - Dr. Martin Luthers Sämmtliche Schriften, Vol. XII, Sermão 194).
→ Robert Michael diz em Holy Hatred: Christianity, Antisemitism, and the Holocaust o atrito que o famoso judeu contemporâneo a Lutero, Josel de Rosheim, teve com ele. Tentando ajudar aos judeus na Saxônia. Em seu diário escreveu que a situação caótica que os judeus enfrentavam era "devido àquele sacerdote cujo nome era Martinho Lutero - que seu corpo e alma sejam presos no inferno! - que escreveu e emitiu muitos livros heréticos nos quais ele dizia que quem quer que ajudasse os judeus estaria condenado à perdição." Josel requereu à cidade de Estrasburgo que proibisse a venda das obras antijudaicas de Lutero. O pedido foi inicialmente recusado, mas cederam quando um pastor luterano em Hochfelden argumentou em um sermão que seus paroquianos deveriam assassinar judeus. Filipe Melanchthon, amigo íntimo e aliado de Lutero, e o Reformador Suíço João Henrique Bullinger, ambos repudiaram as declarações antissemitas de Lutero.
→ Uma obra antissemita que Lutero leu e pela qual se disse apaixonado foi The Whole Jewish Belief (Der gantze Jüdisch Glaub) do luterano Antony Margaritha. Em 1530, Maragatitha e Josel envolveram-se em um debate público do qual Josel saiu vitorioso, resultando no banimento de Maragatitha do Império por Carlos V. “Os materiais fornecidos neste livro confirmaram para Lutero que os judeus em sua cegueira não queriam nada com a fé e a justificação pela fé.” (Michael Sydow - Martin Luther, Reformation Theologian and Educator)
→ No final de março de 1543, Philipp Melanchthon enviou o "Vom Schem Hamphoras…" de Lutero ao Príncipe Eleitor Philipp von Hessen. Embora ele não tenha seguido todas as exigências de Lutero, sob a influência desse escrito ele ordenou a inspeção dos livros livros judaicos e adicionou novas restrições aos judeus a sua Order Concerning the Jews. No mesmo ano, John Frederick I revoga várias concessões dadas a Josel e John, Margrave de Brandemburgo-Küstrin, revogou o salvo-conduto dos judeus em seus territórios. (SILUK, Avraham. Die Juden im politischen System des Alten Reichs. p. 252: De Gruyter, Berlim, 2021) Além disso, o o Rabino Josel von Rosheim solicitou ao Conselho Municipal de Estrasburgo que proibisse os escritos inflamatórios de Lutero daquele ano, porque temia que seu efeito fossem pogroms contra os judeus, haja vista judeus de muitos lugares, como Meissen e Braunschweig, estarem sendo “duramente assediados, roubados, expulsos e tiveram os seus bens e propriedades danificados” por causa da impressão dos escritos inflamatórios de Lutero. (KAUFMANN, Thomas. Luthers "Judenschriften". p. 118 Fn 133. Mohr Siebeck, 2013)
→ Por volta de 1570, o relevo Judensau foi transferido para a parede sudeste da Igreja da cidade de Wittenberg, onde os judeus vindos do mercado tinham que passar no caminho do Judengasse (gueto judeu). E ainda recebeu o título "Rabini Shem HaMphoras" em letras decoradas com ouro.
→ Em 1543, John Frederick I revoga várias concessões dadas a Josel. John, Margrave de Brandemburgo-Küstrin, revogou o salvo-conduto dos judeus em seus territórios e Filipe de Hesse adicionou novas restrições a sua Order Concerning the Jews. Em 1572, os seguidores de Lutero saquearam a sinagoga de Berlim eno ano seguinte os judeus foram expulsos de todo o Margravate de Brandemburgo. Na década de 80, diversos enfrentamentos entre luteranos e judeus vão resultar na expulsão dos judeus em vários desses estados. Em algum ano da década de 1570, o pastor luterano Georg Nigrinus publicou o seu Enemy Jew, em que reitera todo o programa de Lutero sobre os judeus, adicionando suas próprias reflexões e sugestões antissemitas para educar seus leitores. Já Nikolaus Selnecker, um dos autores da Formula of Concord, reimprimiu e distribuiu uma grande leva da nova edição de Lutero Contra os Sabatistas, Sobre os Judeus e Seus Mentiras e Vom Schem Hamphoras.
→ Paul Johnson escreve em A History of the Jews que "Lutero não se contentou com o abuso verbal. Mesmo antes de escrever seu panfleto antissemita, ele expulsou judeus da Saxônia em 1537, e na década de 1540 ele os expulsou de muitas cidades alemãs; ele tentou, sem sucesso, convencer o Eleitor Germânico para expulsá-los de Brandemburgo em 1543. Os seus seguidores continuaram a agitar-se contra os judeus ali: saquearam a sinagoga de Berlim em 1572 e no ano seguinte finalmente conseguiram o que queriam, sendo os judeus banidos de todo o país. … O seu panfleto Von den Juden und ihren Liigen (“Sobre os Judeus e as suas Mentiras”), publicado em Wittenberg, pode ser considerado a primeira obra do antissemitismo moderno e um gigantesco passo em frente no caminho para o Holocausto. 'Primeiro', insistiu ele, 'suas sinagogas deveriam ser incendiadas, e tudo o que restasse deveria ser enterrado na terra, para que ninguém jamais pudesse ver uma pedra ou cinza dela.' Os livros de orações judaicos deveriam ser destruídos e rabinos proibidos de pregar. Depois, o povo judeu deveria ser tratado, as suas casas 'demolidas e destruídas' e os seus presos 'colocados sob o mesmo tecto ou num estábulo como os ciganos, para lhes ensinar que não são senhores na nossa terra'. Os judeus deveriam ser banidos das estradas e dos mercados, as suas propriedades confiscadas e depois estes 'vermes venenosos e envenenados' deveriam ser convocados para trabalhos forçados e obrigados a ganhar o seu pão 'com o suor dos seus narizes'. Em última instância, eles deveriam ser simplesmente expulsos 'para sempre.'" (JOHNSON, Paul. A History of the Jews, HarperCollins Publishers, New York 1987, p. 242)
→ Dennis Prager e Joseph Telushkin em Why the Jews? - The reason for anti-Semitism (Nova York: Simon & Shuster, 1983, p. 107) diz: "[...] os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam freqüentemente. De fato, Julius Streicher argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martim Lutero não tivesse dito 400 anos antes."
→ No século XVII, uma nova reimpressão massiva dos panfletos antissemitas de Lutero vão resultar em um trabalho de apreensão pelo imperador. A ideia da distribuição era apoiar e pressionar as autoridades pelo banimento dos judeus de Frankfurt e worms. Da reimpressão que o calvinista fez Vincenz Fettmilch fez desses panfletos, um grande tumulto contra os judeus em 1612 resultou na morte de três mil deles e na expulsão de todo o restante de Frankfurt. Fettmilch terminou executado pelas autoridades luteranas da cidade, mas por tentar derrubar o governo, não por suas atividades antissemitas. Distúrbios judaícos ainda vão acontecer, resultando na expulsão dos judeus da Boêmia, em 1744, e da Morávia, em 1745, sob a imperatriz Maria Teresa. No século seguinte, em 1821, o mesmo vai ocorrer com os judeus gregos, causando convulsão entre a sociedade alemã. Sob grande contrariedade dos protestantes alemães, os judeus receberam status igual de cidadão na Alemanha em 1869. Em 1873, Guilherme Marrpublicou seu panfleto antissemita Vitória da Judiaria sobre o Germanismo (Der Sieg des Judentums über das Germanentum). No mesmo ano, Adolf Stoecker, Capelão Luterano da Corte de Kaiser Wilhelm I, junta-se a outros teólogos luteranos e intelectuais e funda o laico e antissemita Movimento de Berlim (Berlin movement). Em 1878, ele mesmo - Adolf Stoecker - vai fundar também um Partido antissemita chamado Partido Social Cristão (Christlich – soziale Partei). Henrique von Treitschke, professor da Universidade de Berlim, ficou famoso internacionalmente como historiador e como antissemita, através de uma coleção de ensaios, como o famoso Uma Palavra sobre a Nossa Judiaria (Ein Wort über unser Judentum), escrito em 1879. Em 1881, o Movimento de Berlim vai entregar uma petição com 250.000 assinaturas a Bismark, exigindo o retorno de severas restrições na vida dos judeus na Alemanha. No mesmo ano, novos distúrbios com judeus são protagonizados por esse Movimento, que marcha pelas ruas gritando Juden raus! (Judeus fora!). Durante a década de 80, ainda teremos a formação da Aliança Antissemítica Alemã, a publicação da famosa La France Juive (A França Judaica) de Edudardo-Adolfo Drumont, a fundação do Deutsch-Sociale Antisemitische Partei (Partido Antissemítico Social Alemão), o nascimento de Hitler (em 1889), a publicação de Der Verzweiflungskampf der Arischen Völker mit dem Judentum (A Luta de Desespero dos Povos Arianos Contra os Judeus) por Hermano Ahlwardt, a chegada dos Partidos Antissemita ao Parlamento Alemão (Reichstag), a fundação do jornal antissemita La Libre Parole por Eduardo Drumont e a publicação da obra antissemita The Foundations of the Nineteenth Century (As Fundações do Século Dezenove) de Houston Steward Chamberlain.
→ Em 1931, o luterano Georg Buchwald publicou, entre outras escritos, trechos do Schem Hamphoras para as Innere Mission da Dresdner Landesverein. Já Walter Holsten publicou uma edição dos “Escritos Judaicos” de Lutero em 1936 com Christian Kaiser Verlag. A segunda edição foi publicada no ano dos pogroms de novembro de 1938.
→ Heinrich Himmler (um dos principais membros do Partido Nazista) escreveu com grande admiração sobre os escritos antissemitas de Lutero (Himmler wrote: 'what Luther said and wrote about the Jews'). O Partido Nazista exibiu o Panfleto Sobre os Judeus e Suas Mentiras com honrarias e publicamente em uma caixa de vidro durante comícios em Nuremberg. Na mesma cidade, foi oficialmente repassado a Julius Streicher, editor do jornal nazista Der Stürmer, que o descreve Lutero em suas matérias como "o mais radical panfleto antissemita já publicado" (Marc H. Ellis - Hitler and the Holocaust, Christian Anti-Semitism).
→ "Desde que Martinho Lutero fechou os olhos, nenhum filho de nosso povo apareceu novamente. Foi decidido que seremos os primeiros a testemunhar seu reaparecimento. Acho que já passou o tempo em que não se pode dizer os nomes de Hitler e Lutero sem que estejam ambos no mesmo fôlego. Eles pertencem um ao outro. Eles são da mesma velha estampa [Schrot und Korn]." - Bernhard Rust - Ministro da Educação de Hitler (citado por Richard Steigmann-Gall - The Holy Reich: Nazi Conceptions of Christianity)
→ “Por meio de seus atos e de sua atitude espiritual, ele começou a luta que travaremos hoje; com Lutero, começou a revolução de sangue e sentimento alemão contra os elementos alheios do Volk. Para continuar e completar seu protestantismo, o nacionalismo deve fazer o quadro de Lutero, de um lutador alemão, viver como um exemplo 'acima das barreiras da confissão' para todos os camaradas de sangue alemães.” - Hans Hinkel - Líder da da Luther League, editor da Deutsche Kultur-Wacht e chapter do Kampfbund (Discurso de aceitação como Chefe Para a Seção Judaica e do Departamento de Cinema Goebbel da Câmara de Ministério da Cultura e Propaganda)
→ No decorrer das do festividades Luthertag (Dia de Lutero), os nazistas enfatizaram sua conexão com Martinho Lutero como sendo tanto revolucionários nacionalistas, quanto obradores das propostas de Lutero para a sociedade alemã. Um artigo no Chemnitzer Tageblatt afirmou que "os Volk alemães estão unidos não apenas na lealdade e no amor pela pátria, mas também mais uma vez nas antigas crenças alemãs de Lutero [Lutherglauben]. Uma nova época de religiosidade forte e consciente, a vida amanheceu na Alemanha!"
→ "A liderança da Liga Protestante adotou uma visão semelhante. Fahrenhorst, que estava no comitê de planejamento do Luthertag, chamou Lutero de 'o primeiro espiritual alemão Führer que falava com todos os alemães, independentemente do clã ou confissão. Em uma carta a Hitler, Fahrenhorst lembrou-lhe que seus 'Velhos Lutadores' eram em sua maioria protestantes e que foi precisamente nas regiões protestantes de nossa Pátria 'que o nazismo encontrou sua maior força'. Prometendo que a festa do aniversário de Lutero não se transformaria em em um caso confessional, Fahrenhorst convidou Hitler a se tornar o patrono oficial do Luthertag. Em correspondência subsequente, Fahrenhorst novamente expressou a noção de que a reverência por Lutero poderia de alguma forma cruzar as fronteiras confessionais: 'Lutero não é realmente apenas o fundador de uma confissão cristã; muito mais, suas idéias tiveram um impacto frutífero em todo o cristianismo na Alemanha. 'Precisamente por causa da importância política e também religiosa de Lutero, o Luthertag serviria como uma confissão tanto' à igreja quanto a Volk." - The Holy Reich: Nazi Conceptions of Christianity, 1919–1945 - Richard Steigmann-Gall
→ Uma explicação de 54 páginas da Lei Ariana pelo Dr. Eh Schulz e R. Frercks citou o panfleto para respaldar as políticas nazistas (Graham Noble - Martin Luther and German anti-Semitism). Em 17 de dezembro de 1941, Sete Confederações Regionais da Igreja Luterana emitiram uma Declaração concordando com a política de forçar os judeus a usar o distintivo amarelo, "uma vez que, após sua amarga experiência, Lutero havia [fortemente] sugerido medidas preventivas contra os judeus e sua expulsão do território alemão."
→ Em 1988, ocorreu um protesto contra a escultura da escultura da Igreja Luterana Stadtkirche St. Marien, Wittenberg, famosa porque nela Lutero pregava. Os luteranos responderam recusando-se a remover a obra, mas construindo um memorial ao holocausto no subsolo da Igreja. Em 2019, o judeu Michael Düllmann entrou com ação exigindo a retirada do relevo. O Reverendo local, o pastor Johannes Block, lamentou o passado da escultura, mas defendeu-se dizendo que "não fala mais por si só como uma peça solitária, mas está embutida em uma cultura da memória", graças ao memorial construído em 1988. “Não queremos esconder ou abolir a história, mas seguir o caminho da reconciliação com e através da história." Além disso, uma placa fornecendo informações sobre a obra em seu contexto foi adicionada próxima a ela. O Tribunal do Estado da Saxônia-Anhalt rejeitou o pedido fazendo referência à antiguidade da obra e ao fato de que o templo é Patrimônio Mundial da Unesco. Düllmann disse estar decepcionado, mas feliz por provocar o debate dentro da Igreja Protestante Alemã e disse ainda que iria recorrer da decisão ao Tribunal Constitucional.
→ Segundo a obra de Richard (Dick) Geary, Who voted for the Nazis? (electoral history of the National Socialist German Workers' Party), o padrão de votação da Alemanha entre 1928 a 1933 mostra com clareza que a desproporcionalidade da adesão popular ao nazismo nas regiões protestantes da Alemanha mostra uma quase que hegemonia do pensamento nazista entre os luteranos.
→ "É difícil de entender o comportamento da maioria dos protestantes alemães nos primeiros anos nazistas, a menos que se tenha consciência de duas coisas: sua história e a influência de Martinho Lutero. O grande fundador do protestantismo era um antissemita apaixonado e um crente feroz em obediência absoluta à autoridade política. Ele queria a Alemanha livre dos judeus. O conselho de Lutero foi seguido literalmente quatro séculos depois por Hitler, Goering e Himmler." (SHIRER, William. The Rise and Fall of the Third Reich, Simon and Schuster, New York, 1960, p. 236)
→ Na sua obra Demonizing the Judeus: Luther and the Protestant Church in Nazi Germany, Christopher Probst mostra uma extenso trabalho de pesquisa que exibe um massivo número de clérigos e teólogos protestantes alemães durante o Terceiro Reich que desenvolveram pregações, discursos e análises em cima das publicações hostis de Lutero aos judeus, justificando as políticas adotadas pelos hitleristas.
→ Em Luther, Hitler, o teólogo Hans Preuss diz: "ambos são chamados a salvar o seu povo. De ambos eleva-se o grito pelo Homem Novo da salvação."
→ Na mostra 'Lutero e o Nazismo', no Museu da Topographie des Terrors, no antigo quartel-general da Gestapo, em Berlim, temos uma coletânea de documentos que buscam reunir o uso de Lutero como instrumento da propaganda nazifascista.
→ Heinrich Bornkamn em sua História Universal cita Hitler como um antissemita de primeiro escalão. Na capa, duas figuras-símbolo da época moderna e da contemporânea: Lutero e Hitler. A última parte é dirigida a um fervoroso nazista, Konrad Molinski.
→ Em Christian Antisemitism: A History of Hate, William Nichols diz: "Em seu julgamento em Nuremberg após a Segunda Guerra Mundial, Julius Streicher , o notório propagandista nazista, editor do perverso semanário anti-semita Der Stürmer , argumentou que se ele deveria estar lá foi acusado de encargos, Martinho Lutero também deveria. Lendo essas passagens, é difícil não concordar com ele. As propostas de Lutero parecem um programa para os nazistas. (...) Foi a expressão de Lutero'"Os judeus são nossa desgraça', que séculos depois, seria repetida por Heinrich von Treitschke e apareceria como lema na primeira página do de Julius Streicher Der Stürmer."
→ Em The Psychopathic God: Adolf Hitler, Robert Waite dedicou uma seção inteira à influência de Lutero sobre Hitler e sobre o antissemitismo nazista. Ele pontua que no próprio Mein Kampf, Adolf Hitler refere-se a Martinho Lutero como uma das três maiores figuras da Alemanha. Um grande guerreiro, um verdadeiro estadista e um grande reformador, ao lado de Richard Wagner e Friedrich, o Grande. Waite cita ainda Wilhelm Röpke, que escreve "sem qualquer dúvida, o luteranismo influenciou a história política, espiritual e social da Alemanha de uma forma que, após cuidadosa consideração de tudo, pode ser descrito apenas como fatídico." Na mesma seara, também Erich Koch declarou, no 450º aniversario de Lutero, que ocorreu em uma celebração em Königsberg, alguns meses após a tomada do poder pelos Nazistas em 1933, que os Nazistas lutavam com o espírito de Lutero. É fato inagável que no apogeu do Reich, os nazistas usavam os escritos de Lutero como uma espécie de "Bíblia".
→ Em Reformation: Europe's House Divided, 1490–1700, Diarmaid MacCulloch observa ainda que quase todos os livros antijudaicos impressos no Terceiro Reich traziam referências e citações a Lutero. Conclui que Dos Judeus e Suas Mentiras de Lutero foi um "projeto" concluso na Noite dos Cristais. Emendando, Bernd Nellessen observa em Die schweigende Kirche: Katholiken und Judenverfolgung que Pouco depois da Noite dos Cristais, Martin Sasse, Bispo da Igreja Evangélica Luterana na Turíngia, publicou um compêndio de Lutero, aplaudindo o incêncio às sinagogas e a "coincidência" do dia, escrevendo na introdução: "Em 10 de novembro de 1938, no aniversário de Lutero, as sinagogas estão queimando na Alemanha. (...) O povo alemão (...) está a prestar atenção às palavras do maior antissemita de sua época, o avisador de seu povo contra os judeus."
→ "A afirmação de que as expressões de Lutero de sentimento antijudaico foram de grande e persistente influência nos séculos após a Reforma e de que existe uma continuidade entre o antissemitismo protestante e o antissemitismo moderno, de orientação racial, é atualmente amplamente difundida na literatura, desde a Segunda Guerra Mundial. Compreensivelmente, tornou-se a opinião predominante." - Johannes Wallmann - The Reception of Luther's Writings on the Jews from the Reformation to the End of the 19th century (Citando Fathoming the Holocaust: A Social Problems Approach de Ronald Berger, Revolutionary Antisemitism in Germany from Kant to Wagner de Paul Lawrence Rose, The Rise and Fall of the Third Reich de William Shirer, A History of the Jews de Paul Johnson, History of Anti-Semitism: From the Time of Christ to the Court Jews de Leon Poliakov, The World Must Know de Michael Berenbaum e outros).
→ "quem quer que escrevesse contra os judeus por qualquer razão, acreditava que tinha o direito de se justificar referindo-se triunfantemente a Lutero." - Reinhold Lewin - Luthers Stellung zu den Juden: Ein Beitrag zur Geschichte der Juden in Deutschland während des Reformationszeitalters
→ Franklin Sherman diz: "É notório que o antissemitismo de Lutero e de seus sucessores não pode ser distanciado do antissemitismo moderno. (...) a antipatia de Lutero pelos judeus (...) não era apenas contra um ponto de vista religioso; é contra aquele grupo que suas propostas de ação são dirigidas." - Helmut T. Lehmann - Luther's Works, Vol. 47: The Christian in Society IV (Editado e Comentado por Franklin Sherman).
→ Em Faith Transformed: Christian Encounters with Jews and Judaism, o filósofo alemão comenta o Tratado Dos Judeus e Suas Mentiras dizendo que nele há basicamente "todo o programa nazista."
→ Sobre o antissemitismo luterano, em contraposição ao nazista, Paul Halsall argumenta: "Embora os comentários de Lutero pareçam ser proto-nazistas, eles são mais bem vistos como parte da tradição do antissemitismo cristão medieval. Embora haja poucas dúvidas de que o antissemitismo cristão lançou as bases sociais e culturais para o moderno antissemitismo, o antissemitismo moderno difere por acrescer às bases de seu ódio pelos judeus um elemento adicional: o pseudocientífico critério moderno de raça. Os nazistas prenderam e mataram até mesmo os judeus étnicos que se converteram ao cristianismo, já Lutero teria gostado de suas conversões." (Paul Halsall - Introduction of excerpts of On the Jews and Their Lies)
→ Em Martin Luther and the Jews, Gordon Rupp avalia Dos Judeus e Suas Mentiras dizendo: "Confesso que estou envergonhado porque de algumas cartas de São Jerônimo, de alguns parágrafos de Sir Thomas More, e de alguns capítulos do Livro do Apocalipse, devo dizer, como em qualquer outra coisa na história cristã, que seus autores não haviam aprendido tais coisas de Cristo."
→ Em Martin Luther: The Christian Between God and Death, Richard Marius diz: "Embora os judeus para ele fossem apenas um entre muitos inimigos, ele os castigou com igual fervor, embora não tenha afundado nos horrores da Inquisição Espanhola contra os judeus, e embora seu antissemitismo diferisse daquele incorporado pelo complexo racialismo dos nazistas, o ódio de Lutero pelos judeus é uma parte triste e desonrosa de seu legado, e não é uma questão secundária. Estava no centro de seu conceito de religião. Ele viu nos judeus uma contínua depravação moral que não via nos católicos. Aos papistas, ele acusou de crimes. Aos judeus, ele impôs as penas."
→ Martin Brecht, em sua extensa biografia de Lutero (Martin Luther) em três volumes, escreve que "uma avaliação da relação de Lutero com os judeus deve ser feita". Lutero não se relaciona diretamente com o antissemitismo racial posterior. A oposição [de Lutero] aos judeus estava em seu núcleo de natureza religiosa e teológica que tinha a ver com a crença em Cristo e a justificação. Motivos econômicos e sociais desempenharam apenas um papel secundário. Mas ele certamente exigiu que as medidas previstas nas leis contra os hereges fossem empregadas para expulsar os judeus. Ao aconselhar o uso da força, ele defendeu meios que eram essencialmente incompatíveis com sua fé em Cristo. Além disso, sua crítica à interpretação rabínica das Escrituras em parte violava seus próprios princípios exegéticos. Portanto, sua atitude para com os judeus pode ser criticada apropriadamente tanto por seus métodos quanto a partir do centro de sua teologia. (...) No entanto, sua agitação mal orientada teve o resultado maligno de que Lutero fatalmente se tornasse um dos "pais da igreja" do antissemitismo e, assim, forneceu material para o ódio moderno aos judeus, ocultando-o com a autoridade do Reformador."
→ Ronald Berger: "[Após transcrever citações antissemitas de Lutero] Seria difícil para qualquer fomentador do ódio igualar a crueldade desta condenação de um grupo de pessoas. Este é o discurso de Adolf Hitler ou de outro nazista fanático? Não. É a escrita de MartinLutero, fundador da religião luterana, uma das figuras mais importantes da história do cristianismo! … De acordo com Lutero, os judeus não só estavam enganados nas suas crenças religiosas, como também eram “perversos e demoníacos” (Rubenstein & Roth 1987:55). … Teólogos cristãos, como Lutero, afirmaram que o sofrimento judaico era o castigo de Deus por ter rejeitado seu Filho e que o ódio de Deus pelos judeus 'era evidente pelo seu estado miserável em que se encontravam' (Botwick 1996:16). … Na Alemanha, o teólogo do século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) é frequentemente creditado por germanizar a crítica cristã do judaísmo e estabelecer o antissemitismo como um elemento-chave da cultura alemã e da identidade nacional (Rose 1990; Rubenstein & Roth 1987). Lutero denunciou os judeus como “infortúnio”, “praga” e “pestilência” específicos da Alemanha (citado em Rose 1990:7). De acordo com Paulo Rosa: 'O primeiro grande profeta nacional da Alemanha e o falsificador da própria língua alemã, Lutero … moldou o significado esmagadoramente pejorativo, na verdade, demoníaco, da palavra Judas. Através da influência da linguagem e dos Tratados de Lutero, uma mentalidade histérica e demonizadora entrou na corrente principal do pensamento e do discurso alemães. … Os judeus … bloqueavam a necessidade dos alemães de obterem a realização tanto da sua “liberdade cristã”, como da sua “liberdade” política. … Tendo crucificado Jesus, eles o fizeram … na intenção de crucificar o povo alemão. … Moralmente, os judeus eram os agentes mundanos do diabo…. Materialmente, [eles] estavam extorquindo dinheiro … A redenção da … [a] nação alemã. … significava a sua redenção dos judeus e do judaísmo' (ibid.4, 7-8). Por isso, Lutero foi criador de reivindicações inovadoras em relação ao 'problema judaico', um progenitor chave da visão, que prevaleceu entre a Direita política alemã (incluindo os fascistas), de que os judeus eram uma 'nação estrangeira' que vivia simbioticamente dentro da sociedade alemã' (ibid. .:67). O 'caráter judeu' era considerado o oposto do 'caráter alemão'. Como observa Uriel Tal, 'o caráter judeu não era apenas corrupto e mau … [mas] a essência da corrupção e o princípio do mal. … O carácter alemão não era apenas profundo, recto, diligente e empreendedor, mas também a essência da profundidade, probidade, diligência e coragem' (1975:276; ver também Volkov 1989). … Finalmente, os nazistas tentaram exercer controle sobre a esfera religiosa da cultura alemã. A grande maioria dos alemães eram cristãos luteranos batizados, que compreendiam a maior denominação (Rubenstein & Roth 1987). O luteranismo alemão, conforme observado no capítulo anterior, caracterizou-se pela sua antipatia pelos judeus e pelos seus sentimentos altamente nacionalistas." (BERGER, Ronald. Fathoming the Holocaust: A Social Problems Approach. De Gruyter, New York, 2002, p. 23;25; 28; 51)
→ Paul Rose expõe em Revolutionary Antisemitism in Germany from Kant to Wagner, que Lutero fez com que uma "mentalidade histérica e demonizadora" sobre os judeus entrasse no pensamento e no discurso alemães, uma mentalidade que de outra forma poderia estar ausente.
→ Em The War Against the Jews, Lucy Dawidowicz, é registrado que ambos, Lutero e Hitler, eram obcecados pelo "universo demonologizado" habitado por judeus, com Hitler afirmando que o posterior Lutero, o autor de Sobre os Judeus e Suas Mentiras foi o genuíno pai da nacionalidade alemã antissemita. Escreve ainda que as semelhanças e diferenças entre o antissemitismo católico, luterano e o nazista. Sendo o antissemitismo católico a base sobre a qual Lutero construiu sua abordagem antissemita e sendo uma amálgama desses dois últimos, acrescidos a inovações oriundas de peculiaridades do nacional-Socialismo, que darão origem ao antissemitismo nazista.
→ Em "Luther, Luther Scholars, and the Jews" (Encounter 46:4, [Autumn 1985]), Robert Michael argumenta que os estudiosos que tentam amenizar as opiniões de Lutero sobre os judeus ignoram as implicações assassinas de seu antissemitismo, sendo notórios os paralelos traçados entre as ideias de Lutero que circularam entre a maioria da comunidade luterana alemã, e que pavimentaram o caminho de sua absorção pelo nazismo. "Como os nazistas, Lutero mitificou os judeus como o mal, indossociando-os do assassinato do próprio Deus-Jesus."
→ O biógrafo de Lutero, Roland Bainton, diz (Here I Stand: A Life of Martin Luther) que "Alguém poderia desejar que Lutero tivesse morrido antes mesmo de este tratado ser escrito. Sua posição era inteiramente religiosa e em nenhum aspecto racial." Já Richard Marius contesta Bainton dizendo sobre essa declaração que "o esforço de Roland Bainton é direcionado a tentar apologeticamente fazer a melhor (re-)leitura de Lutero sobre os judeus."
→ Em Genebra, Théodore de Bèze (sucessor de João Calvino) publica Du droit des magistrats para rebater as teses que defendiam liberdade de crença e religiosa de Sébastien Châteillon. Châteillon foi expulso de Genebra por Calvino porque discordava da canonicidade do Cântico dos Cânticos. (1554)
→ Em 14 de Julho de 1555, o Papa Pio IV regulamenta as disposições do Concílio de Latrão e publica a Bula Cum Nimis Absurdum ("Quão completamente absurdo"), impondo aos judeus que usassem um distintivo para identificação, os excluiu de possuir propriedade e os proibiu de serem tratados por médicos cristãos.
Especialmente, Esta bula também sancionou a construção de guetos em que os judeus teriam de viver segregados, principalmente em Roma onde eram tidos como eternamente condenados à servidão pela doutrina Servitus Judaeorum (Servidão dos Judeus) estabelecida em Corpus Juris Civilis pelo pai da Igreja Justiniano I de 529-534.
Por fim, também obrigava os judeus a vestir uma cor turquesa distinta ("glauci coloris"), que os homens judeus usassem um chapéu e as mulheres, um lenço. Proibia comer, conversar ou se divertir com cristãos. Limitava a mercadoria de trigo e cevada (e outros bens) que eles poderiam dispor e não trabalhar sem usar as roupas estabelecidas. Além de, claro, punição para os infratores.
"Porque é absurdamente vergonhoso que os judeus, que por sua inteira culpa são submetidos à escravidão eterna, podem - com a desculpa de estarem protegidos e tolerados pelo amor cristão - em sua coexistência entre os cristãos, mostrar tal ingratidão para com aqueles que, para retribuir com misericórdia a sua ofensa recebida, e esperem dominar ao invés de servir como é de sua obrigação; Nós, tendo aprendido que o espírito de nossa cidade, assim como em outras cidades e países e terras sujeitas à Santa Igreja Romana, a insolência desses judeus chegou a tal ponto que se arrogam não só a viver entre os cristãos e entre às igrejas nas proximidades sem qualquer distinção de vestir, mas também que eles chegam a alugar casas nas ruas e praças mais nobres, adquirir e possuir propriedades, tendo cuidadoras e donas de casa e outros empregados cristãos".
→ Em 26 de Fevereiro de 1569, o papa Pio V reitera a bula do papa Paulo IV Cum Nimis Absurdum (Quão completamente absurdo) com a publicação da Bula Hebraeorum gens (A Raça Judaica) em que ordena a expulsão dos judeus dos Estados Pontifícios, exceto nas cidades de Roma e de Ancona, onde vigorava a Cum nimis absurdum, confinando-os em guetos chamados de il serraglio (zoológicos em italiano).
"O povo judeu caiu das alturas por causa da sua infidelidade e condenou o seu Redentor a uma morte vergonhosa. A sua impiedade assumiu formas tais que, para a salvação do nosso próprio povo, torna-se necessário evitar a sua doença. Os judeus em todos os lugares têm sugado a propriedade dos cristãos pobres, eles são cúmplices de ladrões e o aspecto mais prejudicial da questão é que eles seduzem os inocentes através de encantamentos mágicos, superstição e feitiçaria para a sinagoga de Satanás e se vangloriam de serem capazes de prever o futuro. Nós investigamos cuidadosamente como esta seita revoltante abusa o nome de Cristo e como eles são prejudiciais para aqueles cuja vida está ameaçada por seu engano. Por causa destes e outros assuntos sérios, e por causa da gravidade de seus crimes que aumentam dia a dia mais e mais, ordenamos que, dentro de 90 dias, todos os judeus em todo o nosso reino terrestre de justiça - em todas as cidades, distritos e lugares - devem sair dessas regiões."
→ No Capítulo 18 da Scots Confession (Confissão Escocesa), o reformador João Knox manteve a doutrina calvinista original de intolerância, distinguindo “a prostituta” (Roma) e as sujas sinagogas da “Verdadeira Igreja”. (1582)
→ Em 1º de Setembro de 1584, o Papa Gregório XIII publica a Bula Sancta Mater Ecclesia, reiterando a necessidade das pregações compulsórias aos judeus dispostas no Concílio de Basileia e na Bula Vineam Sorec. Determina que tais sermõeseram imprescindíveis nos locais em que fosse tolerada a existência de uma sinagoga. Seriam realizadas pelo Bispo local e deveriam contar com presença obrigatória de, no mínimo, 1/3 dos judeus do gueto local. As passagens do Antigo Testamento lidas nas sinagogas aos sábados deveriam ser comentadas por Bispos Especialistas. Ainda no Anuário Pontifício de 1860 havia, entre os vários ofícios da Cúria Romana, o "encarregado de pregar aos judeus". (1584)
→ Em 28/02/1592, o Papa Clemente VIII na Bula Cum saepe acidente proíbe os judeus de Avignon de comercializar novas mercadorias em locais públicos.
→ Em 25 de Fevereiro de 1593, o papa Clemente VIII promulga a bula Caeca et obdurata. O historiador italiano Attilio Milano utiliza em Storia degli Ebrei in Italia o termo "bolle infami (bolha maldita)" para se referir a um compilado de documentos católicos antissemitas (no qual esta a de Clemente está inserida).
Esta bula reitera a expulsão de todos os judeus dos Estados Papais, com exceção dos judeus que viviam nos campos de concentração em forma de guetos (Roma e Ancona). Houve um motim em Roma tanto dos judeus, quanto dos cristãos que assistiam ao papa desastrado quebrar a economia local com essas intervenções autoritárias. Devido à importância dos judeus na vida econômica, as elites locais pressionam Clemente, alguns meses depois, a reverter esse decreto permitindo que os judeus romanos permanecessem em suas casas temporariamente e não fossem arrebanhados. Anna Foa comenta em Ebrei d'Europa: Dalla peste nera all'emancipazione que este decreto teve como consequência imediata o fim da comunidade judaica de Bolonha: "os judeus e suas famílias desta cidade tiveram que se mudar com toda a sua mercadoria e as ossadas de seus mortos em Ferrara e Mantua, sob o jugo da Casa d'Este" (1593).
→ Shakespeare escreve sua famosa peça The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza) - uma obra com nítido ranço antissemita, mas já trazendo alguns insights e questionamentos interessantes a respeito do foco que foi dado à humanidade dos judeus. (1596)
→ O rei Cristiano da Dinamarca e alguns outros monarcas escandinavos convidaram judeus a residir nos seus países, quando a Guerra dos Trinta Anos grassava na Europa Central. (1622)
→ A Confissão de Westminster, por ato do parlamento escocês, substituiu a Confissão Escocesa, definindo a Igreja em termos universais e excluindo os ataques aos católicos e antissemitas. (1646–1647)
→ Durante a rebelião dos Cossacos e camponeses russos na Polônia, Ucrânia, Rússia Branca e Lituânia, as mais cruéis torturas foram perpetradas contra judeus. Milhares morreram sob prolongada brutalidade. Crianças tampouco foram poupadas. Há relatos de raptos, chacinas, judeus mortos devagar com lanças, mulheres fendidas e gatos vivos costurados dentro delas. A cidade de Hamburgo expulsou os judeus. (1648–1649)
→ Em 22 de setembro, Pedro Stuyvesant enviou para casa uma Carta Antissemita das colônias no Novo Mundo à Companhia da Índia Ocidental, indicando que os judeus dali também estavam em dificuldade. Os puritanos da Inglaterra viam os judeus como grande desafio ao evangelismo cristão (1654)
→ O Bispo Dom Jacques-Bénigne Bossuet, em sua famosa obra Discours sur l'Histoire universelle, II, cap. XXXXI, repete a acusação de deicídio dos judeus: "Foi o maior de todos os crimes: um crime até então inédito, ou seja , deicídio , que também deu lugar a uma vingança da qual o mundo ainda não tinha visto nenhum exemplo... As ruínas de Jerusalém ainda fumegam com o fogo da ira divina […]. Não era apenas o povo de Jerusalém, eram todos os judeus que você queria castigar (na época em que o imperador Tito sitiou a cidade, os judeus estavam lá em massa para celebrar a Páscoa). [...] Porém, o endurecimento dos judeus, querido por Deus, os tornava tão obstinados, que depois de tantos desastres ainda era necessário tomar sua cidade à força [...]. A justiça divina precisava de um número infinito de vítimas; ela queria ver onze, cem mil homens deitados na praça [...] e depois disso, novamente, perseguindo os remanescentes desta nação desleal, ele os espalhou por toda a terra." - Dom Jacques-Bénigne Bossuet - Discours sur l'Histoire universelle, II, cap. XXXXI. (1681)
→ Nas Constituiçoens Primeyras do Arcebispado da Bahia (1707), Livro V, Tit. I, 866-887: Do Crime da Heresia: que se denunciem ao Tribunal do Santo Officio os Hereges, e suspeitos de heresia, ou judaismo, do I Sínodo Diocesano do Brasil é dito: "Para que o crime da heresia, e judaismo se extinga, e seja maior a gloria de Deos nosso Senhor, e augmento de nossa Santa Fé Catholica, e para que mais facilmenle possa ser punido pelo Tribunal do Santo Officio o delinquente, conforme os Breves Apostolicos(1) concedidos á instancia dos nossos Serenissimos Reis a este Sagrado Tribunal, ordenamos, e mandamos a todos os nossos subditos, que tendo noticia de alguma pessoa Herege, Apostata de nossa Santa Fé, ou Judeo, ou seguir doutrina contraria áquella que ensina, e professa a Santa Madre Igreja Romana, a denunciem(2) logo ao Tribunal do Santo Officio no termo de seus Editaes, ainda sendo a culpa secreta, como for interior. E quando por justa razão, que tenhão, o não possão fazer, serão sem embargo disso obrigados a nos dai conta(3), para que ordenemos o que for conveniente em ordem a ser delatado o tal delicto, e se proceder segundo a justiça pedir. E o mesmo se guardará, tanto que qualquer pessoa for notada de suspeita na Fé(4), ou fautor dos Hereges(5) em quanto taes, ou der indicios provaveis de approvarelle os seus erros; porque o castigo de todas estas penas pertence ao dito Tribunal da Inquisição."
Em outro trecho estabelece no Livro I, Tit. II, 15: Como se Ha de Denunciar dos Hereges, e de seus Fautores, e da Prohibição dos Livros Defezos: "Ordenamos, e mandamos a todos os nossos subditos, que souberem, que alguma pessoa de qualquer qualidade que seja tem, crê, ou disse o contrario, ou por qualquer modo sente mal, ou se aparta da nossa Santa Fé Catholica, ou occulta, ajuda, favorece, ou recolhe os hereges, com toda a brevidade passiveI o (1) fação saber a Nós ou ao nosso Provisor, ou Vigario Geral, ou a algum Inquisidor Apostolico, (se acaso o houver neste Arcebispado) e não o cumprindo assim, alem do grave peccado que commettem e excommunhão da Bulla da Cea reservada a Sua Santidade, em que incorrem serão castigados com as penas, que merecer sua culpa."
Há ainda um trecho que convém citar. No Livro V, Tit. II: Da Blasfemia - Como é Grave Este Crime, e Quaes são as suas Penas, lê-se:
(...) 890 - E se algum leigo blasfemar(5) expressamente de nosso Senhor JESUS Christo, ou da gloriosa Virgem Maria sua Mãi, e Nossa Senhora, sendo informado, incorrerá pela primeira vez em pena de cem cruzados; pela segunda em duzentos, o pela terceira em quatrocentos, e será condemnado a degredo, pelo tempo que parecer. E sendo plebeo(6), e não tendo por onde pagar a pena pecuniaria, pela primeira vez estará um dia inteiro em corpo com as mãos atadas, e com uma mordaça na boca à porta da Igreja da parte de fóra; pela segunda será açoutado pelo lugar sem effusão de sangue; e pela terceira será mais gravemente castigado, e condemnado em degredo para galés, pelo tempo que parecer. (...)
892 - E todo aquelle que blasfemar dos Santos, será castigado com penas arbitrarias(10) que parecer segundo as circunstancias das blasfemias, tempo, lugar, e qualidade da pessoa. E as ditas penas pecuniarias, ou sejao as determinadas, ou as arbitrarias, em que os sobreditos forem condemnados por este crime, applicamos em tres partes iguaes; uma para o nosso Meirinho, ou qualquer pessoa que accusar, ou denunciar; outra para a fabrica da nossa Sé; e a terceira para as despezas da Justiça.
893 - E sendo as blasfemias hereticaes, que saibão manifestamente a heresia, nossos Ministros darão conta ao Santo Officio(11); e o que por aquelle Tribunal for ordenado se cumpra com diligencia: e se no entretanto lhes parecer que convêm prender(12) os culpados; assim o executem. (1707)
→ Os judeus foram expulsos da Boêmia e, no ano seguinte, da Morávia, sob a imperatriz Maria Teresa. (1744-1745)
→ Sob a Imperatriz Isabel Petrovna, cerca de 35.000 judeus foram expulsos da Rússia. (1753)
→ A expansão da Rússia e a derrota da Polônia confrontaram os russos com comunidades judaicas largamente estabelecidas que anteriormente não estavam sob o seu domínio. A Czarina Catarina II, a Grande, estabeleceu um território, o assim chamado Recinto de Residência. O dispositivo visava ser uma barreira entre a Rússia e seus vizinhos ocidentais, além de impedir que a população judaica influenciasse a sociedade russa. Os judeus precisavam de licenças especiais para viajar para fora do Recinto. Perseguições a judeus continuaram violentamente na Polônia, Lituânia e Rússia em virtude da fuga e refúgio dos judeus dos cruzados e da Inquisição da Europa ocidental. (1768)
→ No contexto da Revolução, foi dada cidadania aos judeus na França. (1791)
→ Os Países Baixos concederam aos judeus plena igualdade e cidadania. (1796)
→ O Czar Alexandre I quis integrar os judeus na sociedade russa, ordenando que deixassem as aldeias onde estavam residindo. Um número estimado em 500.000 judeus deixaram o campo e migraram para as cidades, onde milhares morreram de fome, de frio ou de doenças. Pânico social, ódio antissemita e medo de epidemias provocou ebulição da população e, pressionado, o Czar revogou a lei. (1808–1810)
→ Aos judeus de Dinamarca foi concedido emancipação quase completa. Cidades alemãs ainda expulsaram regularmente judeus: Lubeque, Brema, Würzburg e outras cidades da Francônia, Suábia e Bavária. Os assim chamados distúrbios cristãos HEP! HEP! (um grito dos cruzados: Hierosolyma est Perdita – Jerusalém está perdida) tomaram lugar em Francoforte, Darmstadt, Bayreuth, Karlsruhe, Düsseldorf, Heidelberga, Würzburg e até em Copenague. (1814 – 1820)
→ Milhares de judeus fugiram da Grécia, após populachos cristãos antissemitas. (1821)
→ Em 17 de fevereiro de 1840, judeus foram acusados de perpetrar ritual de assassinato contra um menino cristão (visando utilizar seu sangue para preparação de matzos para a páscoa judaica) em uma das mais antigas comunidades judaícas do mundo, datada de pelo menos 142 a.C., a ilha de Rodes (pertencente ao Império Otomano na época). O evento ficou conhecido como Libelo de Sangue de Rodes e recebeu apoio de cônsules de vários países da Europa, inclusive J. Wilkinson do Reino Unido, E. Masse da Suécia e os demais da França, Império Austro-Húngaro e Grécia. O primeiro judeu a ser torturado na presença do governador, do qadi, dos cônsules europeus e do arcebispo grego foi o rabbi Eliakim Stamboli. Este judeu foi "acorrentado, enfaixado, fios incandescentes foram postos em suas narinas, ossos em chamas foram apertados contra sua cabeça e uma pedra pesadíssima foi deixada sobre seu peito, de tal maneira que ele foi levado ao limiar entre a vida e a morte." Sob essas condições, Stamboli confessou que havia organizado um ritual de assassinato e incriminou outros judeus, abrindo as portas para outras prisões. Meia dúzia de judeus foram acusados pelo crime e torturados. O clero grego e os cônsules europeus grego exigiram que o governador Yusuf Paşa bloqueasse todo o quarteirão dos judeus na véspera do Purim, além de prender o rabbi-chefe Jacob Israel. O bloqueio foi tão efetivo que seus habitantes não podiam obter comida ou água fresca. Nesse intervalo, tentaram passar através da cerca um corpo para o quarteirão dos judeus, mas o flagrante falso foi por sorte descoberto e repelido pela comunidade. Quando o rabino chefe, austríaco, foi torturado e apelou ao vice-cônsul da Áustria Anton Giuliani, este respondeu: “O que foi, rabino? Do que você está reclamando? Você não está morto ainda." Os muçulmanos, contudo, não estavam interessados em perseguir a acusação de assassinato contra os judeus. O oficial muçulmano encarregado pelo bloqueio foi encontrado contrabandeando pão aos residentes aprisionados; O cônsul britânico insistiu e conseguiu que ele fosse chicoteado nos pés (bastinado, falanga ou falaka) e removido do serviço por desobediência. O bloqueio durou doze dias. Após investigação paralela, o governo central emitiu um decreto (firman) concluindo que o Libelo era uma farsa e que os judeus eram inocentes.
Após do qadi de decidir pelo arquivamento do caso do Libelo de Sangue de Rodes, o cônsul britânico Wilkinson perguntou, referindo-se a essa decisão: "O que sifgnifica para nós o julgamento de Mollah, após o que ocorreu em Damasco, que provou que, de acordo com o Talmud, sangue cristão deve ser usado no preparo de seu pão de páscoa?” Os judeus acusaram o clero e os cônsules de explorar o caso visando eliminar o judeu local Elias Kalimati, que representava os interesses comerciais de Joel Davis - um judeu executivo londrino. Davis estava rapidamente aumentando sua cota de ações no rentável negócio de exortação de esponjas na ilha e era o principal concorrente dos cônsules europeus. Os cristãos responderam a essas ações do governo central com uma nova onda de fúria contra os judeus e, assim, no final de maio a violência contra os judeus generalizou-se. Os judeus descreveram muitos casos em que foram agredidos ou espancados pelos gregos e os filhos dos cônsules britânico e grego estavam entre aqueles que agrediram vários judeus. Quando os judeus se queixaram ao governador, ele ordenou que os queixosos se sujeitassem a castigos físicos. O qadi desligou-se das ações do governador, que declarou que tinha agido sob as demandas dos cônsules. Além disso, o governador ordenou que cinco outros judeus fossem presos.
Simultaneamente ao Libelo de Sangue de Rodes, outro Libelo muito mais famoso ocorria em Damasco, conhecido como Caso de Damasco. No dia 5 de Fevereiro, o frade franciscano Thomas e seu criado Ibrahim Amara desapareceram, e os judeus de Damasco foram acusados de assassiná-los para usar seu sangue no preparo de matzos para a páscoa judaica. A comunidade cristã local, o governador e o cônsul da França (sob total suporte de Paris) insistiram na tese de acusação de ritual de assassinato. Os oito judeus acusados - incluindo o rabino principal e David Mizrahi - foram torturados sendo suspensos em ganchos presos ao teto diante dos cônsules europeus. Mizrahi perdeu a consciência após 6 horas, enquanto o rabino foi mantido assim por dois dias, até que sofreu de hemorragia. Ainda assim, nenhum dos dois confessou e ambos foram libertos após alguns dias. Os outros 6 judeus permaneceram presos até o início de abril. Alguns chegaram a confessar que haviam matado Thomas e seu criado. Seus testemunhos foram utilizados pela acusação como prova irrefutável de culpa. (1840)
→ Karl Marx (descendente de judeus) publicou seu tratado Zur Judenfrage (Sobre a Questão Judaica), uma crítica aos movimentos judaicos e a Bruno Bauer. Nele, repete antigos estereótipos que os cristãos usaram contra os judeus. (1844)
→ As Revoluções de 1848 (Revolução de Março) trouxe a emancipação aos judeus da Confederação Germânica, mas já em 1851 as constituições da Prússia e da Áustria outra vez incluíam restrições antissemitas. (1848)
→ Ocorrem em Nova York distúrbios de cristãos contra judeus. (1850)
→ Pio IX abole leis que forçavam os judeus a viver em áreas específicas, os impediam de praticar certas profissões e os obrigavam a ouvir sermões quatro vezes por ano em tentativas de conversão. O Judaísmo e o Catolicismo eram as únicas religiões permitidas por lei (o Protestantismo encontrava-se permitido aos estrangeiros, mas não autorizado a italianos). Mesmo assim, o testemunho de um judeu em tribunal contra um cristão era inadmissível aos olhos da lei.
→ Em 1858, ocorreu um caso altamente divulgado na época, um menino judeu de seis anos, Edgardo Mortara, foi sequestrado de sua casa pela polícia dos Estados Papais. Foi alegado que havia sido batizado por uma empregada cristã da família quando ele estava doente, por temer que não fosse para o Céu. Por lei, os cristãos não podiam ser criados por judeus, mesmo se estes fossem seus pais. Pio IX recusou os apelos de numerosos chefes de Estado, incluindo o Imperador Francisco José I da Áustria e o Imperador Napoleão III de França que solicitavam junto a Sua Santidade o retorno da criança a seus pais. Foi beatificado em 2000.
→ Hermano Gödsche publicou sua famosa novela Biarriz sob o pseudônimo de Sir John Racliffe. Num capítulo intitulado de “No Cemitério Judaico de Praga” descreve um encontro secreto a meia-noite entre representantes das 12 tribos de Israel, recebendo instruções do Diabo sobre como dominar o mundo. Em 1872, só esse capítulo foi reimprimido como um panfleto em São Petersburgo, Rússia, com a declaração de que embora a história fosse ficção, era baseada em fatos. O panfleto foi reimpresso, mais tarde, em Moscou, Odessa e Praga. (1868)
→ Sob contrariedade fervorosa dos cristãos protestantes da Alemanha, judeus receberam status de igualdade em cidadania na Alemanha. (1869)
→ Em 1870, o Risorgimento italiano chegava ao fim e o exército italiano libertou os judeus de Roma do gueto em que os papas os forçavam a viver (sob intensos protestos do papa Pio IX). A abolição dos guetos e aquela libertação marcava a reintegração social dos judeus à sociedade após longo período em que os efeitos do Sínodo de Viena e do Sínodo de Breslau (que confinaram os judeus em guetos) vigoravam. (1870)
→ O padre Augusto Rohling de Praga publicou seu panfleto Der Talmudjude (O Judeu do Talmude). Era um virulento ataque antissemita que circulou vastamente entre católicos. (1871)
→ Guilherme Marr publicou seu panfleto antissemita Der Sieg des Judentums über das Germanentum (Vitória da Judiaria sobre o Germanismo). (1873)
→ O professor Henrique von Treitschke na universidade de Berlim, fez-se um nome no mundo, não somente como historiador, mas também como moderno antissemita. Numa coleção de ensaios Ein Wort über unser Judentum (Uma Palavra sobre a nossa Judiaria) declara, por exemplo, que antissemitismo é uma reação natural do sentimento nacional alemão contra um elemento estranho que usurpara largamente demais um lugar na nossa vida. (1879)
→ Uma petição com 250.000 assinaturas foi entregue a Bismark pelo Movimento Berlim, exigindo severas restrições na vida judaica na Alemanha. O primeiro de muitos severos pogroms modernos contra os judeus foi iniciado pela Sagrada Liga na Rússia. Os pogroms causaram uma das maiores emigrações na história judaica. Eugênio Duhring publicou seu Die Judenfrage als Rassen-, Sitten- und Kulturfrage (A Questão Judaica como um Problema de Raça, Costume e Cultura):
"A origem do desprezo geral, sentido pela raça judaica, jaz na sua absoluta inferioridade em todos os campos intelectuais. Os judeus mostram uma falta de espírito científico, uma fraca compreensão de filosofia, uma inaptidão para criar em matemática, arte e até música. Fidelidade e reverência com respeito a qualquer grande e nobre são-lhes alheias. Por isso, a raça é inferior e depravada (...) A obrigação dos povos nórdicos é exterminar tais raças parasitas como exterminamos serpentes e bestas de presa."
Comícios do Movimento Berlim terminaram em distúrbios com a população marchando pelas ruas e gritando Juden raus! (Judeus fora!), atacando judeus ou pessoas de aparência judaica e quebrando janelas de comércios judaicos. (1881)
→ O padre Emmanuel-Augustin Chabauty publicou Les Juifs, nos Maitres! (Os Judeus, nossos Mestres), em que denunciava que as nações cristãs estavam sendo atacadas por uma conspiração judaica. (1882)
→ A Aliança Antissemítica Alemã foi formada por uma coalização de partidos de Direita. Edudardo-Adolfo Drumont publicou seu La France Juive (A França Judaica), uma obra violentamente antissemita que circulou largamente. (1886)
→ Na Terceira República Francesa, o envolvimento de Cornelius Herz no Escândalo do Panamá (1888-1893) e o Caso Dreyfus (de 1894-1906) foram emblemáticos. Enquanto o Escândalo do Panamá foi forjado para erguer uma onda de antissemitismo e usar os judeus como bodes espiatórios da corrupção financeira ocorrida nos altos escalões, o Caso Dreyfus foi um escândalo político que dividiu a República e chegou a simbolizar a injustiça moderna no mundo francófono, sendo até hoje reconhecido como um dos exemplos mais notáveis de erro judiciário e de antissemitismo, onde o Alto Escalão do exército e do judiciário entraram em conluio para incriminar o Capitão Alfred Dreyfus, de ascendência judia. A resolução só veio em 1906, com a absolvição de Dreyfus. Porém novamente confirmando o sentimento popular de que os judeus seriam traidores militares que estavam solapando a nação por dentro. Em 1898, a reabertura parlamentar faz ingressar na Câmara o groupe antijuif (Grupo Antijudaico), que se reproduzem depois das eleições de 1902. (1888-1902)
→ Max Liebermann von Sonnenberg, que fora um líder no Movimento Berlim, fundou o Deutsch-Sociale Antisemitische Partei (Partido Antissemítico Social Alemão), em Bochum, Vestfália. O primeiro jornal antissemita da Hungria passa a circular. (1889)
→ Nasce Adolf Hitler (1889)
→ Quatro milhões de judeus fugiram à Europa Ocidental e América, devido à perseguições na Europa Oriental. Mas aqui também – na Terra dos Livres – os judeus foram restritos, sofrendo as antigas acusações. O Sionismo desenvolveu-se na Europa. Hermano Ahlwardt publicou seu Der Verzweiflungskampf der Arischen Völker mit dem Judentum (A Luta de Desespero dos Povos Arianos Contra os Judeus), retratando os judeus um como povo que controlavam todos os setores da nação alemã. Partidos antissemitas ganharam cinco vagas no Reichstag (Parlamento) alemão. (1890 e seguintes)
→ Eduardo Drumont fundou o jornal francês antissemita La Libre Parole. (1892)
→ Partidos antissemitas ganharam dezesseis vagas no Reichstag alemão. (1893)
→ O oficial francês Alfredo Dreyfus (um judeu) foi condenado pelo conselho de guerra por traição, gerando grandes distúrbios antissemitas na França. Mais tarde foi provado que as provas usadas contra ele foram forjadas por antissemitas de alta patente e integrantes do Ministério de Guerra. (1894)
→ Houston Steward Chamberlain publicou sua devastadora obra The Foundations of the Nineteenth Century (As Fundações do Século Dezenove). Levou a teoria racial de Gobineau à sua conclusão lógica, proclamando os germânicos como a raça mestre e exigindo uma cruzada contra os judeus. (1899)
→ Centenas de pogroms contra os judeus ocorreram pelas Centenas Pretas na Rússia e Ucraína. Uma breve versão dos Protocolos dos Doutos Anciãos de Sião foi publicado por Pavolackai Krushevan no seu jornal Znamya em São Petersburgo. Sua ficção foi aceita pela polícia secreta do Czar, pelos cristãos do povo e geralmente são usados como exemplos de como os cristãos eram predispostos a crer na propaganda antissemita mais fantasiosa que se possa imaginar. Sergei Nilus publicou o texto na íntegra dos Protocolos na terceira edição do seu livro O Grande e o Pequeno. Georgy Butmi publicou sua versão dos Protocolos em Os Inimigos da Raça Humana (que contou com quatro edições em dois anos). (1900 – 1910)
→ Leis antijudaicas foram abolidas para que judeus pudessem lutar para a Santa Mãe Rússia na Primeira Guerra Mundial. (1914)
→ O grã-duque Sergei, comandante-chefe dos exércitos russos, decretou a recolocação de todos os judeus, temendo que tomassem partido com os alemães. 600.000 foram transportados à força ao interior da Rússia e outros 100.000 morreram de abandono às intempéries, inanição ou doenças. (1915)
→ Aproximadamente 200.000 judeus morreram violentamente durante a Revolução Russa e a Guerra Russo-Polonesa de 1920. Houve massacres de judeus na Ucraína, Minsk, Pinsk e Vilna pelo exército polonês e em Yekaterinburg, Sibéria. Em julho de 1919, mais de 2.000 judeus foram massacrados pelo Exército Branco sob ordens do almirante Kolchak. Os judeus foram acusados pelos bolcheviques de serem capitalistas e opostos aos socialistas e acusados pelo Exército Branco de serem Vermelhos e socialistas. À época, os Brancos foram mais brutais. Lenin instituía judeus como irmãos proletários contra as hostes dos burgueses. Em contrapartida, o bom tratamento que os judeus recebiam dos socialistas servia como prova ao Exército Branco de que os judeus eram comunistas. Torturas terríveis e massacres de judeus aconteceram na Ucraína sob o general Denikin, cujo Exército Branco no sul da Rússia era armado e financiado principalmente pelos aliados, mormente o britânico. Na Declaração Balfour, a British Foreign Secretary (Ministério do Exterior Britânico) declarou a Palestina como sendo o lar nacional (national home) para os judeus. As nações árabes protestaram. Os Protocolos dos Doutos Anciãos de Sião foram publicados na Inglaterra. Em distúrbios em Berlim e Munique, os judeus foram responsabilizados por a Alemanha ter perdido a guerra. (1918–1920)
→ Gottfried zer Beek (Ludwig Müller) publicou os Protocolos em alemão, que teve seis edições e chegou a ser a versão oficial dos nazistas em 1929. Os Protocolos foram publicados também na França, Estados Unidos e Polônia. O upgrade da KKK na década de 20 reascendeu as restrições aos judeus americanos. Hitler fez o seu primeiro discurso importante contra os judeus em 13 de agosto, exigindo que se tirasse deles todos os seus direitos. Aproximadamente 1.450.000 judeus imigraram para os Estados Unidos num período de cerca de 30 anos. Para frear a imigração, o presidente Harding e o Congresso rescreveram as leis, limitando a imigração por nacionalidade por ano a 3% do número das pessoas dessa nacionalidade já nos Estados Unidos no censo de 1910. Outra restrição radical de imigração foi legislada em 1924. (1920–1924)
→ O jornal nazista Der Stümmer apresentava regularmente figuras de rabinos chupando o sangue de crianças alemãs. (1923)
→ Em 1925, o padre franciscano Erhard Schuland escreveu Katholizismus und Vaterland (Catolicismo e Pátria) em que pedia aos alemães para combater "a influência destrutiva dos judeus na religião, na moral, na literatura e na arte, e na política e vida social".
→ Hitler publicou seu Mein Kampf (Minha Luta):
"Se, com a ajuda do seu credo marxista, o judeu sente-se vitorioso sobre outros povos do mundo, sua coroa será a grinalda funeral da humanidade (...) Hoje creio que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Onipotente: defendendo-me contra o judeu, luto pela obra do Senhor." (1925)
→ Os pogroms continuaram na URSS, Polônia, Romênia, Hungria, Grécia e México. Na Alemanha, cemitérios judaicos e sinagogas foram invadidos, saqueados e profanados. (1926–1933)
→ Hitler chegou ao poder na Alemanha. Os judeus foram excluídos do serviço civil, profissões legais e universidades, não tinham permissão de ensinar em escolas e não podiam ser editores de jornais. (1933)
→ Em 7 de abril de 1933, os nazistas promulgaram a Lei para a restauração do serviço público profissional, impedindo que judeus ocupassem funções públicas, revigorando os efeitos do Sínodo de Clermont. (1933)
→ Em 1933, Hitler afirmou que em seu trato com judeus, apenas estavam terminando o que a igreja começou:
"A Igreja Católica considerou os judeus pestilentos por mil e quinhentos anos, os perseguiu e os colocou em guetos porque reconheceu os judeus pelo que eram. [...] Eu também reconheço os representantes desta raça como pestilentos para o estado e para a igreja e eu estou, desse modo, fazendo um grande serviço ao Cristianismo, empurrando-os para fora das escolas e das funções públicas." - Adolf Hitler - O Santo Reich: Concepções Nazistas do Cristianismo 1919-1945, p. 117, 1188 - Richard Steigmann-Gall e Nazi Germany and the Jews: The Years of Persecution, 1933-1939 - Saul Friedländer (Discurso 26 de abril de 1933 em uma recepção para o bispo católico Berning) (1933)
→ A Igreja Católica ajudou a identificar judeus para o extermínio. Por exemplo, depois de 7 de abril de 1933, os funcionários públicos na Alemanha eram obrigados a provar que não eram judeus e devido os nascimentos serem registrados pelo Estado somente a partir de 1874, a igreja foi chamada a prestar muitos registros, pois pelo registros de batismo se saberiam quem era ou não um judeu. (1933)
"Mesmo quando a Igreja [católica romana] realizava atividades de resgate isoladas [durante o Holocausto], os motivos parecem ter sido trazer os judeus resgatados para o cristianismo [catolicismo]. Milhares de crianças judias foram levadas para mosteiros, e depois da guerra muitas não retornaram para seu povo e sua fé mesmo quando os parentes suplicarem pela sua libertação." - Rabino Meir Zlotowitz e Rabino Nosson Scherman - SHOAH, A Jewish Perspective or Tragedy in the Context of the Holocaust
→ Grupos antissemitas surgiram por todo o Canadá. O Antissemitismo era proeminente em muitos magazines e jornais. (1934)
→ Os judeus perderam sua cidadania na Alemanha. (1935)
→ Em 15 de setembro de 1935, os nazistas promulgaram a Lei para a Proteção do Sangue Alemão e Honra Alemã através da proibição de casamentos e relações sexuais entre alemães e judeus, similar ao estabelecido pelo Sínodo de Elvira. Também proibiu que judeus tivessem empregados alemães. Ressuscitando os efeitos do Sínodo de Orleans. (1935)
→ Palestinos rebelam-se contra o Sionismo e a decisão britânica de oferecer aos judeus terras árabes. Durante o ano de 1936, meio milhão de judeus foram assentados na Palestina. Os britânicos tentaram bloquear o fluxo de imigração e negociar com organizações paramilitares judaicas. Stalin chega ao poder da URSS e dá indícios de aderir ao antissemitismo europeu em detrimento do posicionamento de Lenin, muitos judeus perderam suas vidas na URSS. O Cardeal Hloud, o primaz da Polônia, numa carta pastoral, exortou os católicos a boicotarem negócios judaicos. (1936)
→ Ideólogo dos mais influentes da Ação Integralista Brasileira, arianista, antissemita e homofóbico, Gustavo Barroso publicou, em 1937, o livro Judaísmo, Maçonaria e Comunismo, em que relaciona subversão à homossexualidade, amplia os seus ataques ao marxismo judaico e argumenta que a sodomia ou homossexualismo era um hábito atribuído aos judeus e nisso se celebrizaram Sodoma e Gomorra. (1937)
→ Os campos de concentração de Sachsenhausen, Buchenwald e Lichtenburg foram estabelecidos na Alemanha. Todos os professores judaicos perderam os seus empregos na Itália. Crianças judaicas foram segregadas. Os Protocolos foram publicados na Itália e circularam largamente. (1937)
→ 25 de julho de 1938, os nazistas criam um decreto estabelecendo que alemães médicos não devem atender judeus. Lei similar ao Sínodo de Trulanic (1938)
→ “Ao executarem seu primeiro massacre em larga escala, em 9 de novembro de 1938, no qual destruíram quase todas as sinagogas da Alemanha e assassinaram trinta e cinco judeus, os nazistas anunciaram que a perseguição era uma homenagem ao aniversário de Martim Lutero.” - Why the Jews?: The Reason for Antisemitism - Prager e Telushkin
→ Em 31 de Julho de 1938, o nazismo cria um decreto que permite ao Ministério da Justiça substituir as vontades que ofendem o "bom senso das pessoas", ou seja, proibindo os judeus de receberem herança dos cristãos, um decreto similar ao Terceiro Concílio de Latrão. (1938)
→ No dia 17 de agosto de 1938, cinquenta e três judeus austríacos chegaram à Finlândia pelo mar. Foi-lhes negada permissão para desembarcar e o barco que os trouxera foi forçado a voltar para a Alemanha. Vários passageiros tinham os documentos necessários para entrar nos Estados Unidos e queriam apenas transitar pela Finlândia. Mas, não lhes foi permitido. Uma judia grávida, que estava prestes a dar à luz, teve permissão de sair do navio e ir a um hospital, mas depois do nascimento, a mãe e o bebê tiveram que reunir-se aos outros passageiros. No caminho de volta à Alemanha, três dos refugiados rejeitados se lançaram ao mar e morreram.
→ A explicação da Austrália para a recusa veio por um de seus oficiais: "Sem dúvida será compreendido que, por não termos problemas raciais, não temos o desejo de importar um." - Martim Gilbert, The Holocaust: A History of the Jews of Europe During the Second World War [Henry Holt and Company, Inc. 1985]. (1938)
→ Os nazistas promoveram intensa perseguição e destruição aos livros sagrados para os judeus, em eventos como Bücherverbrennung (10 de Maio de 1933), Noite dos Cristais (9-10 de Novembro de 1938), etc... Similar ao XII Concilio de Toledo. No Reichskristallnacht, milhares de lojas e negócios judaicos foram pilhados, os judeus mais ricos foram imediatamente levados a campos de concentração, suas posses foram confiscadas e transferidas aos nazistas... Também foram excluídos da vida pública, de escolas e universidades. (1938)
→ Em 03 de dezembro de 1938, um Decreto nazista proibia judeus de aparecem nas ruas durante certos feriados, similar ao Sínodo de Orleans. (1938)
→ Em 28 de dezembro de 1938, O nazismo promulga a Diretiva de Goering, proibindo a convivência direta de judeus em residências arianas, algo similar ao Sínodo de Narbonne.
→ Em 1939, o navio MS St. Louis saiu da Alemanha com 907 refugiados judeus que fugiam do nazismo e requeriam refúgio em vários países. No entanto, foram rejeitados, porto após porto, nas Américas do Norte, Central e do Sul, inclusive no Canadá. Ao se aproximarem da Flórida, a marinha disparou um tiro de advertência para que se mantivessem longe da costa. Detalhe é que todos eles tinham vistos de turistas, mas mesmo assim foram recusados por estarem sob condição de refugiados.
Forçados a retornar à Europa, ao horror. Apenas 288 deles foram aceitos pela Inglaterra numa última tentativa e os remanescentes caíram nas garras de Hitler: 254 deles não sobreviveram ao Holocausto.
À medida em que o número de judeus que queriam fugir da Alemanha crescia, também era endurecido em países como Inglaterra, EUA, México, Argentina, Chile, Holanda, Suíça, França, Austrália e Uruguai as restrições ao número de judeus que eram autorizados a entrar. Refugiados eram cruelmente enviados de volta à destruição certa. Enquanto isso, os judeus que estavam nesses países, tentavam desesperadamente obter vistos para seus parentes que ainda estavam na Alemanha. Eles se achavam lutando contra uma barreira cada vez maior de regras e restrições irracionais criadas propositalmente para impossibilitar a imigração de mais judeus. O fluxo de refugiados foi reduzido a um filete, deixando centenas de milhares que estavam tentando escapar de serem mandados para o leste e, finalmente, eliminados.
Nas vésperas do lastimável aniversário de 80 anos do Progrom da Noite dos Cristais na Alemanha (08.11.2018), Justin Trudeau (primeiro-ministro do Canadá) pediu perdão publicamente pela atitude omissiva de seu país na perseguição aos judeus pela Alemanha Nazista.
Em seu pronunciamento, Trudeau acusou os políticos canadenses da época de recusar o desembarque por antissemitismo, lamentou a insensibilidade da resposta que o Canadá deu, "Nós nos recusamos a ajudá-los quando podíamos tê-lo feito. Contribuímos para selar os destinos cruéis de muitos deles em lugares como Auschwitz, Treblinka e Belzec", lembrou que o antissemitismo ainda está muito presente na sociedade e chamou atenção para que os países do mundo não voltem a cometer os mesmos erros com outros povos em situação similar. Pouco antes de fazer o pedido de desculpas, Trudeau havia se encontrado com Ana Maria Gordon, uma das sobreviventes da viagem do MS St. Louis e que hoje vive no Canadá.
Em Min Hameitzar, o rabino Weissmandl conta como o governo civil da Eslováquia apelou ao Vaticano para que fizesse parar o envio de judeus aos campos de extermínio. O Vaticano respondeu que os judeus que se convertessem ao cristianismo (catolicismo) não deviam ser enviados, mas quanto ao resto, as famílias não deviam ser separadas nos carregamentos.
Quando os judeus ainda pensavam que a deportação significava apenas transferência, um arcebispo eslovaco esclareceu: "Isso não é só expulsão... eles vão massacrar todos vocês juntos... e esse é o castigo que merecem pela morte de nosso Redentor. Vocês têm apenas uma única esperança: Convertam-se à nossa religião, e assim agirei para cancelar o decreto".
Chaim Weissmandl agiu ferrenhamente para impedir a deportação de judeus na Eslováquia para a Alemanha. Apesar de apelar ajuda às autoridades da época, de 900.000 judeus húngaros, 600.000 foram assassinados. Em um apelo ao Embaixador do Papa na Eslováquia, este lhe respondeu: "Não existe tal coisa como o sangue de crianças judias inocentes! Todo sangue judeu é culpado, e eles devem morrer. Esse é o castigo que os espera por aquele pecado." (Citado por Rabino Yoel Schwartz e Rabino Yitzschak Goldstein, SHOAH: A Jewish Perspective on tragedy in the context of the Holocaust (Mesorah Publications, Ltd., 1990), p. 161). (1938-1945)
→ O início da Segunda Guerra Mundial trouxe uma mudança da política de emigração para a de exterminação. Milhares de judeus foram arrebanhados pelos comandos de ação (Einsatzkommandos) da SS atrás da frente alemã que avançava e eram fuzilados ou levados a campos de concentração na Polônia. A GESTAPO (Geheime Staatspolizei = Polícia Secreta do Estado) arrebanhava judeus, ciganos, Testemunhas de Jehovah, comunistas, homossexuais e outros, e os colocava nos campos. (1939–1941)
→ Em 21 de setembro de 1939, os nazistas promulgam a Ordem de Heydrich revigorando a segregação dos judeus em guetos, similar ao Sínodo de Breslau. (1939)
→ O Card Angelo Roncalli, futuro Papa João XXIII, escreve repetindo as acusações de deicídio contra os judeus:
"Cabe a mim, todos os sacerdotes, todos os católicos, cooperar na conversão do mundo infiel, no retorno dos hereges e cismáticos à unidade da Igreja, na proclamação de Cristo também entre os judeus que eles mataram."
(RONCALLI (Futuro Papa João XXIII), Card Angelo. Diário da Alma: Notas Durante Terapia Junto à Casa das Religiosas de Nossa Senhora de Sion do Bósforo, 29 nov. 1940. p. 225 (v¹: 225). São Paulo: Ed. Paulus, 2015)
→ Em 1941, um influente padre - Franjo Kralik - afirmou entusiasticamente num jornal católico de Zagreb: "O movimento [nazista] para libertar o mundo dos judeus é um movimento para o renascimento da dignidade humana. O Deus Onisciente e Todo-Poderoso está por trás desse movimento". (1941)
→ Em 24 de outubro de 1941 o nazismo promulga Lei vedando alemães de manterem relações cordiais com judeus, similar ao Sínodo de Viena. (1941)
→ Em 01 de setembro de 1941, os nazistas também impuseram o uso de um distintivo - uma estrela de Davi amarela - para identificação vergonhosa dos judeus, similar ao estabelecido pelos IV Concílio de Latrão e o Sínodo de Viena. (1941)
→ Em 20 de janeiro, a conferência de dezesseis oficiais nazistas de alto patente em Berlim-Wannsee planejaram a solução final, a completa exterminação semita Europeia. (1942)
→ Em 9 de setembro de 1942, o nazismo estabelece o ato de Chancelaria do Reich, impedindo que judeus executem ações civis na Justiça, algo similar ao III Concilio de Latrão.
→ Aproximadamente seis milhões de judeus, entre eles cerca de um milhão de crianças, foram mortos em campos especiais de extermínio situados na Polônia, que estava ocupada pelo exército alemão. O mais proeminente desses campos era Auschwitz. Holocausto é um termo bíblico que significa oferta queimada. Os judeus referem-se a esse evento mais devastador da sua história como Shoáh. (1942–1945)
"[...] os escritos posteriores de Lutero, atacando os judeus, eram tão virulentos que os nazistas os citavam freqüentemente. De fato, Julius Streicher argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg (1946) que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martim Lutero não tivesse dito 400 anos antes." - Dennis Prager e Joseph Telushkin - Why the Jews? The reason for anti-Semitism [Por que os Judeus: A causa do anti-semitismo]
→ Na Lituânia, um ministro foi inquirido por crimes de guerra em 1958, ao ser questionado sobre o porquê ele permanecera em silêncio diante dos terríveis assassinatos a que presenciava, a sua resposta foi que ele acreditava que o versículo da Escritura estava sendo cumprido para os judeus: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos”. (1958)
→ Em 28 de Outubro de 1965, o Concílio Vaticano II publica o Nostra aetate, em que inocentam os judeus hereditários pela morte de Jesus e convoca as duas religiões a um diálogo (1965).
→ Em 1994, o Vaticano presenteou o então presidente austríaco Kurt Waldheim com um título de cavaleiro papal por "preservar os direitos humanos" durante seu mandato como Secretário-Geral da ONU de 1972 a 1981.
Mas Waldheim era um oficial da inteligência militar alemã durante a Segunda Guerra Mundial que cometeu crimes de guerra contra judeus. Inclusive o Secretário da Justiça americano proibiu de entrar nos Estados Unidos por causa de provas de que ele deu apoio e informações que capacitaram outros a matar, torturar e deportar pessoas para campos de trabalhos forçados. (1994)
→ O triunfo do progressismo liberal forçou os cristãos do mundo a rever seus pressupostos sobre os judeus. Apesar de rixas e rivalidades pontuais, especialmente em África e no Oriente Médio, as duas religiões chegaram ao século XXI com uma grande amistosidade, apesar do passado turbulento.
O pontificado do papa Francisco foi um marco dessa fraternidade. Como exemplo dessa guinada histórica da tradição cristã, uma comissão do Vaticano em 2015 votou e deliberou que os judeus podem alcançar a salvação eterna sem conversão ao cristianismo, exortando os católicos a não procurar sua conversão. "A Igreja acredita que a salvação é alcançada pela fé em Jesus, e exorta os cristãos a “espalhar a fé no mundo. No entanto, os católicos consideram um diferente chamado para com os judeus. Cinquenta anos atrás, a histórica declaração “Nostra Aetate” exigiu aproximação e diálogo entre o cristianismo e o judaísmo, ajudando a acabar com séculos de desprezo para com os judeus. (...) Devemos dar testemunho da fé diante deles com humildade e sensibilidade, reconhecendo que são portadores da palavra de Deus, e tendo em conta a grande tragédia do Holocausto nazista". (atualmente)




Ótimo artigo! Cai bem nesses momentos.
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